quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Brinquedo nada seguro

Brinquedo nada seguro

Especialistas alertam contra morteiros e rojões. Se possível, o melhor é esquece-los



André Bernardo


Rio - A queima de fogos no Réveillon na Cidade do Rio é sempre forte candidata a uma das mais bonitas do mundo. Mas, para que o espetáculo pirotécnico da virada do ano não termine em emergências de hospitais, especialistas alertam para o uso cuidadoso de fogos de artifício. Segundo o chefe do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital do Andaraí, Luiz Macieira, o número de atendimentos a vítimas de queimaduras por morteiros e rojões nos dias 24 e 31 de dezembro ultrapassa a casa dos 50.

Em apenas dois dias, o hospital atende mais pacientes do que nos meses de junho e julho, quando o número de casos é elevado devido às tradicionais festas caipiras. “A recomendação mais importante que tenho a fazer é não soltar fogos de artifício. Nas festas de fim de ano, os adultos costumam beber além da conta e acabam se descuidando das crianças. Muitos morteiros e rojões são de fabricação caseira. Já vi fogos de artifício produzidos com pedra e pólvora socados dentro de um tubo de PVC. Esse tipo de produto é um convite para a tragédia”, adverte Macieira.

RISCO DE MUTILAÇÕES

Para quem não consegue passar as festas de fim de ano sem estourar um morteiro, o médico recomenda distância segura de pelo menos dois metros do próprio corpo. Segundo ele, o risco de o rojão estourar antes da hora e explodir na mão da pessoa é bastante provável. “Às vezes, o acidente é tão grave que resulta até na mutilação da mão ou do braço da vítima”, acrescenta. Nesse caso, o que seria motivo de alegria e encantamento pode provocar dor e sofrimento à vítima e tristeza para amigos e familiares. Fim de festa.

Explosões podem provocar até fraturas

Referência no tratamento de queimaduras, o Hospital do Andaraí atende pacientes de outros municípios e até estados. Luiz Macieira não esquece da ocasião em que atendeu uma paciente de Barra de São João, no Norte Fluminense. A vítima assistia a uma queima de fogos promovida pela prefeitura quando uma explosão acabou com a festa na cidade. “Além de queimaduras, ela sofreu fraturas pelo corpo todo”, conta Macieira.

Apesar de o número de atendimentos a vítimas de queimadura por fogos de artifício subir nas festas de fim do ano, brincar com morteiros e rojões é perigoso por todo o ano, alerta o estudante Thiago de Azevedo Alcântara, 16 anos. Morador de Paquetá, ele comemorava a vitória do Brasil sobre a Austrália na Copa do Mundo da Alemanha, em 2006, quando encontrou um pacote de morteiros numa lixeira e resolveu usá-los. “Na explosão, entrei em estado de choque. A única coisa que consegui fazer foi mergulhar na praia. Perdi cabelos, cílios e sobrancelhas. Queimou tudo. Achei que fosse perder a mão. Meu braço ficou em carne viva”, lembra Thiago. “Hoje, não brinco nem com estalinho”, garante.

EQUÍVOCO COMUM
Um quadro ruim pode se agravar se, no desespero, parentes e amigos das vítimas de queimaduras usarem no ferimento soluções caseiras. O primeiro passo é verificar se há mais material arriscado por perto.

ESQUEÇA
Nunca usar no local pó de café, pasta de dente, pomada para assadura ou qualquer outra substância.

O QUE FAZER
A única providência recomendável é lavar o local com água fria, cobri-lo com um pano limpo e úmido e, principalmente, procurar atendimento médico o mais breve possível.

GELO QUEIMA
Não se deve colocar gelo em hipótese nenhuma. A água fria ameniza a dor. Mas o gelo, ao contrário, pode agravar a queimadura.

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