terça-feira, 30 de março de 2010

Polícia identifica motoristas suspeitos de fraude para baratear IPVA

Motoristas do Rio emplacavam carros no ES, onde imposto é menor.
Agentes encontraram documentos, placas de carro e lacres.

Do G1, no Rio, com informações do RJTV

 

A Polícia Civil identificou nesta terça-feira (30) centenas de motoristas do Rio suspeitos de fraude para baratear o IPVA. O golpe ficou registrado nos livros que os despachantes do esquema usavam para anotar os nomes dos donos dos carros. Segundo a polícia, eles emplacavam o veículo no Espírito Santo para pagar menos imposto.

Na segunda-feira (29), cerca de 40 agentes da Delegacia Fazendária e da Corregedoria do Departamento de Trânsito do Estado do Rio (Detran-RJ) realizaram uma operação contra o golpe. A ação ocorreu no município de Campos, na Região Norte Fluminense.

A operação foi realizada após nove meses de investigação e tinha o objetivo de cumprir oito mandados de busca e apreensão. Segundo a polícia, os motoristas compravam um carro novo em Campos e emplacavam no Espírito Santo, onde o imposto é menor. Ninguém foi preso.

Os agentes encontraram milhares de documentos de carros registrados de forma irregular no estado vizinho. Além disso, os policiais recolheram placas, tarjas e até lacres. Um livro de contabilidade encontrado durante a operação revela que o golpe era aplicado desde 2007.

Cidade tem mais carros do que eleitores

De acordo com os agentes, as placas apreendidas mostram que era possível até escolher em qual município do Espírito Santo o carro ficaria registrado. Numa delas a polícia descobriu um número surpreendente: a cidade de Bom Jesus do Norte tem mais carros do que eleitores.

O esquema era tão organizado que os motoristas que transferiram o carro do Rio para o Espírito Santo podiam contar com um serviço especial. Segundo a polícia, era só pagar uma taxa e todos os anos o despachante avisa a data de vencimento do IPVA, depois era só ir até o banco pagar o imposto e mandar entregar o documento na cada do proprietário.

Imagens mostram esquema

Durante as investigações, os policiais se passaram por compradores e comprovaram que até em concessionárias a opção fraudulenta era oferecida aos clientes.

Policial: “Qual seria a opção?”

Vendedor: “Campos, Espírito Santo. Rio de Janeiro, Espírito Santo. O Espírito Santo, mais barato, ‘Tá’. Num carro desse, por exemplo, de R$ 60 mil mais ou menos, você pagaria R$ 2,4 mil de IPVA anual no Rio de Janeiro. No Espírito Santo você vai pagar metade, você vai pagar R$ 1,2 mil."
As imagens mostram, ainda, que o vendedor deu mais informações para deixar o suposto cliente tranquilo:

Policial: “Não tem que trazer o carro?”

Vendedor: “Não precisa. Espírito Santo não precisa, não tem vistoria no Espírito Santo.”

A negociação do policial com o vendedor da concessionária revela, ainda, que o despachante nem precisava encontrar o dono do carro:

Policial: “E 2010, como é que eu faço?”

Vendedor: “Aí ele liga para você. Aí ele vai te ligar, vai te dizer olha: ‘O IPVA está vencendo tal dia.’ Você vai mandar o dinheiro para ele. Ele vai te cobrar um serviço de R$ 80, já vai mandar para você um ‘verdinho’ (Renavan) 2010, tudo certinho, sem problema nenhum. O carro não tem que ir lá fazer vistoria, não tem que fazer nada.”

Fraude

A polícia do Rio também cruzou a divisa do estado e foi conferir o que funcionava numa casa no município de Cachoeiro de Itapemirim. Pelo menos 80 donos de carros do Rio de Janeiro deram o endereço como fachada para emplacar o carro no Espírito Santo.

De acordo com a polícia, como no Espírito Santo o valor do imposto é de 2% e no estado do Rio de Janeiro chega a ser o dobro, muita gente recorria a prática criminosos para conseguir pagar menos. Todos os envolvidos serão indiciados e podem responder pelos crimes de formação de quadrilha, falsidade ideológica e sonegação fiscal.

O Detran do Espírito do Santo informou que vai colaborar com as investigações, e que já solicitou ao Detran do Rio de Janeiro a relação dos veículos emplacados para averiguar os processos de licenciamento.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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