quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Vereadores de Duque de Caxias são transferidos para presídio federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul

Extra

Dois vereadores de Duque de Caxias e outros dois supostos milicianos presos durante a Operação Capa Preta foram transferidos, nesta quarta-feira (23/02), para o Presídio Federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.

O pedido de transferência foi feito pelo subprocurador-Geral de Justiça de Atribuição Originária Institucional e Judicial do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Antônio José Campos Moreira, diante da suspeita de participação deles em uma série de crimes, inclusive dois homicídios, cometidos desde a operação, realizada em dezembro de 2010.

O vereador Chiquinho Grandão, de Duque de Caxias, foi transferido para Campo Grande / Foto: O Globo / Arquivo

Até então custodiados no Batalhão Especial Prisional (BEP) da Polícia Militar, o vereador Jonas Gonçalves da Silva (o Jonas É Nós) e o soldado PM Ângelo Sávio Lima de Castro (o Castro) seguiram do Aeroporto Santos Dumont, no Rio, para a penitenciária de segurança máxima às 7h30m.

A transferência contou com o auxílio do Departamento Penitenciário Nacional (Depen). O mesmo destino tiveram o vereador Sebastião Ferreira da Silva (o Chiquinho Grandão) e Éder Fábio Gonçalves da Silva (o Fabinho É Nós) – ex-PM e filho de Jonas, que estavam no Complexo Penitenciário de Gericinó. A permanência em Campo Grande, conforme decisão da Seção Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, ocorrerá durante prazo inicial de 360 dias.

De acordo com a investigação que deflagrou, em 21 de dezembro, a operação da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MPRJ (Gaeco), a milícia Família É Nós era a mais bem estruturada de Caxias, na Baixada Fluminense.

Mesmo presos e respondendo à ação penal pelo crime de quadrilha armada, os líderes do bando continuaram agindo para cooptar, coagir e matar autoridades e testemunhas que prestaram declarações contra eles. O subprocurador-Geral de Justiça ressaltou o êxito da parceria com a Draco e os delegados Cláudio Ferraz e Alexandre Capote.

— A medida foi a resposta necessária aos atos atentatórios à vida humana e à dignidade da Justiça, colocando a cúpula da perigosa quadrilha longe de sua base territorial e área de influência — acrescentou Campos Moreira.

Crimes em série na Baixada

O sargento reformado da Polícia Militar Nelson Franco Coutinho foi morto a tiros em 27 de janeiro, por volta das 10h, quando dirigia seu veículo na Avenida Pelotas, em Jardim Gramacho, área de atuação da milícia. Ele havia atuado como informante no curso das investigações e, pouco antes de ser assassinado, revelara que os quatro milicianos planejavam matar todos que contribuíram para a prisão deles.

Em 5 de fevereiro, por volta das 20h, Lucas José Antônio, que figurava como testemunha, foi assassinado a tiros de grosso calibre em frente ao seu estabelecimento comercial, no bairro São Bento, outra área de atuação da quadrilha. Pouco antes do homicídio, a Draco obteve a informação de que ele vinha sendo coagido pelos integrantes da cúpula da milícia a negar o teor das declarações que prestou no Inquérito Policial.

No mesmo dia em que a operação foi deflagrada (21/12), a polícia obteve a informação de que os integrantes da Família É Nós planejavam um atentado contra o delegado Substituto da Draco, Alexandre Capote.

Em 25 de janeiro, uma testemunha foi à sede da delegacia e informou ter sofrido ameaças de morte, além de ter sido perguntada se aceitaria mudar seu depoimento em troca de R$ 200 mil. Em 4 de fevereiro, outra testemunha prestou declarações na sede do MP e informou que foi abordada por Jonas É Nós, que lhe perguntou se aceitaria dinheiro para negar o conteúdo das declarações.

Venda de armas para traficantes do Alemão

A Operação Capa Preta cumpriu 34 mandados de prisão contra pessoas denunciadas pelo MPRJ pelo crime de quadrilha armada, resultando na captura de 30 milicianos. Buscas e apreensões foram realizadas em 57 endereços, inclusive na Câmara Municipal de Duque de Caxias. Armas e munições foram encontradas.

De acordo com a denúncia do MPRJ, Jonas – soldado reformado da Polícia Militar, seu filho Éder Fábio Gonçalves da Silva – ex-PM – e Chiquinho comandavam o bando fundado há cerca de três anos, que atuava nas localidades de Gramacho, São Bento, Lote XV, São José, Parque Fluminense, Parque Muisa, Pantanal, Jardim Leal, Guaíra, Sarapuí, Vila Rosário e Parque Suécia, dividindo as regiões de Caxias em áreas de influência. Nos outros escalões, havia 13 PMs, outros três ex-PMs, um policial civil, um fuzileiro naval e um terceiro-sargento do Exército.

A milícia é investigada por cerca de 50 homicídios, cometidos desde 2007. O grupo paramilitar movimentava cerca de R$ 300 mil por mês, por meio de atividades ilegais como cobrança de “taxas de proteção” de moradores e comerciantes, monopólio da venda de cestas básicas, comércio de armas de fogo com traficantes do Complexo do Alemão e outros criminosos, tráfico de influência, agiotagem, esbulho de propriedades e parcelamento irregular do solo urbano, exploração da distribuição de sinal de TV a cabo (“gatonet”) e internet (“gatovelox”), venda de combustíveis de origem espúria, transporte coletivo alternativo (vans e moto-táxis), venda de botijões de gás de cozinha (GLP) e uso de caça-níqueis e outros jogos de azar.

De acordo com o MPRJ, o “quartel-general” da milícia fica em Gramacho, onde Jonas possui um centro social. As ações da quadrilha envolvem a prática de homicídios coletivos, ocultação e destruição de cadáveres, torturas, lesões corporais graves, extorsões, ameaças, constrangimentos ilegais e injúrias. Os réus respondem à ação penal pelo crime de quadrilha armada. Jonas, Éder e Castro são processados ainda pelo crime de extorsão.

Casos de Polícia - Extra Online

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