sábado, 12 de fevereiro de 2011

Tragédia na Região Serrana: o esforço dos sobreviventes um mês após as chuvas

Clarissa Monteagudo

Com a vida por um fio, no meio da enxurrada, Dona Ilair Pereira de Souza, de 53 anos, viu a esperança surgir em forma de uma corda. Mas, para a salvação, ainda faltava um nó. Esse, Dona Ilair Pereira de Souza, de 53 anos, não sabia dar. Então, deixou a cargo de alguém que, dizem, escreve certo por linhas tortas. E também dá nós de marinheiro.

— Eu não sabia lidar com corda grossa. Quem deu aquele nó foi Deus — conta a mulher que se tornou símbolo da luta pela vida ao se lançar de uma casa em ruínas e ser alçada por vizinhos em São José do Vale do Rio Preto.

Um mês após ver suas vidas devastadas pela maior tragédia causada pelas chuvas, os moradores da Região Serrana tentam retomar o curso. Atos simples do cotidiano, como tomar banho, tornaram-se preciosos. Em Nova Friburgo, o comércio reabriu, as estradas estão desobstruídas e as ruas se tornaram canteiros — de flores e... de obras.

Faixas com mensagens como “Reage, Nova Friburgo” foram espalhadas nos locais de deslizamentos. É o esforço da reconstrução. Na zona rural, porém, o espectro da destruição aterroriza os moradores. Muitos temem não ter condições de reconstruir as casas, lavouras e histórias de vida.

De acordo com o vice-governador Luiz Fernando Pezão, que visitou Friburgo durante a semana, medidas de crédito de 71 milhões anunciadas pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário para prefeituras e agricultores familiares dos municípios atingidos ajudarão a reerguer a economia.

— São 2.081 pessoas desabrigadas só em Friburgo e 300 em Bom Jardim. Estamos chegando às áreas rurais e vamos chegar mais. Quero fazer 2.800 casas. E o esforço maior é que sejam construídas, no máximo, a três quilômetros do local onde os moradores viviam antes — afirmou Pezão.

Já na periferia, moradores se queixam do descaso da prefeitura. O velório do pintor Jorge dos Santos, de 43 anos, já dura 30 dias. É o tempo em que sua mulher Rosemary Serafim, de 40 anos, passa em frente aos escombros, em Floresta. Ela só quer o direito de enterrar o marido. Mas para isso falta uma retroescavadeira para remover o entulho:

— Primeiro, eles (as autoridades do município) querem embelezar a cidade. Meu marido era pobre, está morto, deixa pra lá. Mas e eu? Pedi ajuda várias vezes. Eles dizem que vem, fico esperando embaixo do sol e nada — lamentou Rosemary, diante da dor e do descaso.

Neste sábado, várias homenagens aconteceram na cidade, que vive um momento de reflorescimento da fé.

Extra Online

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