sábado, 26 de fevereiro de 2011

Tristeza pela morte de Crystal

Menina morre um dia depois de ser salva de afogamento e comove até equipe de resgate

Rio - Resgatada com vida de uma profundidade de quase quatro metros no Rio Morto, no Recreio dos Bandeirantes, quinta-feira, após ficar 20 minutos submersa, Crystal da Silva Cardoso, de 1 ano e 2 meses, não resistiu a complicações e morreu às 20h30 desta sexta-feira.

Médicos tentavam salvá-la durante todo o dia, no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do Hospital Miguel Couto, na Gávea, onde, na porta, vários bombeiros que a tinham socorrido, parentes, vizinhos e até desconhecidos fizeram corrente de fé pela recuperação do bebê. A causa da morte será divulgada após a liberação do laudo do IML.

Foto: Ivaldo A. Silva / Agência O Dia

Cristal da Silva Cardoso, de 1 ano e 2 meses,  foi localizada no fundo do canal, desacordada | Foto: Ivaldo A. Silva / Agência O Dia

Indiciado

“Tive um pressentimento ruim hoje à tarde, embora estivesse cheio de esperança de que ela sobrevivesse. Infelizmente, ela era muito frágil e lutou até onde pôde pela vida. Para nós, fica apenas a sensação de que cumprimos nosso dever. Mas a vitória completa era ela vencer a morte”, lamentou o cabo bombeiro Luiz Carlos Castellar, 33 anos, do Grupamento de Busca e Salvamento da Barra da Tijuca, ao saber da morte da criança através de O DIA.

Ao chegar ao local, 20 minutos depois do acidente, Catellar levou menos de um minuto para encontrar a menina, mesmo com a água turva pela poluição. O último boletim médico, no final da tarde, dava conta de que estava em estado grave, mas estável, respirando por aparelhos.

“Nossos bravos guerreiros estão arrasados, mas prontos novamente amanhã (hoje) para realizar novos e difíceis salvamentos. Somos treinados para isso, embora seja difícil separar o lado profissional do emocional”, disse o relações públicas do Corpo de Bombeiros, coronel Evandro Bezerra.

SEM HABILITAÇÃO

O bebê estaria sem cadeirinha, ao lado da mãe, Elisivane Cardoso da Costa, 26 anos, no banco de trás do Audi dirigido pelo aposentado Moacir dos Santos, 52.

O motorista, que estava com carteira de habilitação vencida há oito anos, teria confessado que ingeriu bebida alcoólica antes de dirigir.

Ele perdeu a direção ao tentar uma ultrapassagem arriscada, caindo no rio. O motorista, Elisivane e outra mulher que estava no carro saíram ilesos.

Foto: Ivaldo Silva / Agência O Dia

A menina é retirada do canal pelo Corpo de Bombeiros e voluntários que ajudaram no resgate | Foto: Ivaldo A. Silva / Agência O Dia

Na 42ª DP (Recreio), onde foi indiciado por lesão corporal culposa, Moacir agora poderá responder também por homicídio. O Detran abriu processo para cassar a carteira de habilitação dele.

A tia de Crystal, Elisane Rocha, 30 anos, disse que o pai da criança nunca quis registrar a menina, e só pagou pensão no mês passado por determinação da Justiça. Ele e alguns familaires tentaram agredir a mãe da criança, mas foram contidos.

Família: queixa de maus-tratos à criança

Pela manhã, a avó paterna de Crystal, Liziet Fátima Sabino Faria, 57 anos, se queixou que o bebê era vítima de maus tratos pela mãe, Elisivane, desde que nasceu. Por esse motivo, ela e o filho, o enfermeiro Alessandro Sabino, 26 anos, tentavam obter a guarda da criança.

“Ela dá surras na minha neta por motivos banais e costuma deixá-la sozinha em casa. Há um bom tempo nós temos denunciado isso à Justiça. Só espero que agora não seja tarde”, desabafou Liziet, mostrando documento com marcação de audiência sobre o caso para junho.

Abalado, Alessandro, que só viveu três meses com Elisivane, não deu declarações. A mãe da criança passou o dia no hospital com a filha e também não falou sobre o assunto.

O cabo bombeiro Luiz Carlos Castellar, 33 anos, que resgatou Crystal do fundo do rio, foi abraçado e cumprimentado como herói nas ruas, nesta sexta-feira, assim como os colegas da equipe de Busca e Salvamento da Barra da Tijuca.

Pescador fica abalado com a perda

O pescador Antônio de Oliveira Nunes, 56 anos, que fez o resgate da mãe de Crystal e do casal de amigos, submersos no Rio Morto, ficou muito abalado com a morte da menina. Ele recebeu a notícia na noite de ontem e, no primeiro momento, não acreditou.
“Pensava em visitá-la neste sábado no hospital. É muito sofrimento, uma morte tão jovem, mas fiz o que podia e isso me conforta”, desabafou.

Ex-gari e morador da comunidade do Terreirão, Antônio voltou ontem ao local da tragédia e achou, abandonado, à margem do canal, um para-choque dianteiro, com a placa de São Paulo FYT 9999, que seria do Audi acidentado. Emocionado, lembrou que pescava, a 100 metros de distância, quando viu o carro capotar e mergulhar no canal.

“A menina, que estava sentada numa cadeira que parecia ser de plástico, foi cuspida e desapareceu. Saí correndo, desesperado, mergulhei no canal, e salvei a mãe do bebê e o casal de amigos. Foi uma cena horrível”, frisou.

Reportagem de Francisco Edson Alves e Geraldo Perelo

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