terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Escolas de samba atingidas por incêndio não serão rebaixadas

Portela, Grande Rio e União da Ilha do Governador não serão julgadas

POR RAPHAEL AZEVEDO

Rio - Este ano não haverá rebaixamento no Grupo Especial. A destruição causada pelo incêndio na Cidade do Samba, que atingiu os barracões de União da Ilha, Grande Rio e Portela, levou a direção da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) a declarar as três agremiações hors-concours no Carnaval. De acordo com o presidente da Liesa, Jorge Castanheira, as três vão desfilar, mas não serão julgadas.

Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Bombeiros tentam controlar um grande foco de incêndio no barracão da União da Ilha | Foto: Severino Silva

Em 2012, 13 escolas — as 12 atuais e a campeã de 2011 do Grupo de Acesso — vão desfilar no Grupo Especial. Com isso, o número de agremiações rebaixadas em 2012 aumentará de uma para duas escolas, voltando a uma agremiação rebaixada em 2013.

Também houve mudança na data dos desfiles. A Portela, que seria a terceira a desfilar na segunda-feira de Carnaval, agora será a terceira de domingo. E a Mocidade Independente de Padre Miguel, que seria a terceira de domingo, vai se apresentar na segunda-feira. União da Ilha e Grande Rio continuam desfilando na segunda-feira.

Com isso, evita-se que os desfiles das três escolas prejudicadas se concentrem num só dia.

Com a interdição dos barracões pela Defesa Civil, as três escolas atingidas pelo fogo terão local provisório para a confecção de novas fantasias. A Grande Rio ocupará o espaço de um barracão da Liesa, que estava desativado. A Portela ficará no espaço da praça de alimentação da Cidade do Samba, que é coberta por uma lona. Já a União da Ilha usará um estacionamento em um terreno situado em frente à Cidade do Samba.

A reunião que decidiu pelas mudanças foi realizada ontem à noite na sede da Liesa, com a participação de Castanheira e de todos os presidentes das escolas do Grupo Especial. Em seguida, eles levaram a decisão ao prefeito do Rio, Eduardo Paes, que aprovou o documento.

Prefeitura e Liesa organizam em comum o Carnaval.
Paes, que ontem de manhã já havia se posicionado favorável ao não rebaixamento, apoiado pelo governador Sérgio Cabral, festejou. “Com todo o respeito ao grande carnavalesco Paulo Barros (Unidos da Tijuca), não há nenhum abre-alas ou mágica dele que vá superar o show de garra das comunidades de Grande Rio, Portela e União da Ilha”.

"Todas as escolas vão permanecer no Grupo Especial. Aconteceu uma fatalidade e temos que trabalhar para que o espetáculo não seja prejudicado. O Carnaval é luxo e glamour, mas também é raça e suor. Será uma grande oportunidade para vermos o verdadeiro samba no pé de volta", disse o prefeito.

Perguntado sobre a reação de pessoas que já tinham comprado ingressos para ver especificamente a Portela ou a Mocidade, o prefeito pediu que o público tenha compreensão. Segundo ele, a Liesa não tem como trocar os ingressos, mas estudará uma forma de ressarcir quem se sentir lesado.

Após a explicação do prefeito, a diretoria da Liesa informou que o trabalho de reconstrução do carnaval das três escolas afetadas já começou e que as mesmas poderão usar a praça central da Cidade do Samba para confeccionar suas fantasias e alegorias.

"Essas escolas tiveram um prejuízo incalculável. Por isso temos que levar em consideração a ideia do prefeito. Todos estão fazendo um mutirão, mas mesmo assim será difícil recuperar o prejuízo", disse Jorge Castanheira, presidente da Liesa, antes da reunião começar.

Ao comentar o estrago causado nos barracões o dirigente disse que ainda é cedo para apontar as causas do fogo e revelou que irá aguardar os laudos da perícia para fazer qualquer avaliação. Castanheira, no entanto, informou que a Liesa possui seguro de todos os barracões. Todas as possíveis modificações estão sendo analisadas numa reunião de emergência que ocorre na sede da Liesa, no Centro dp Rio.

Em visita à Cidade do Samba, o prefeito Eduardo Paes defendeu a idéia de que nenhuma escola seja rebaixada no carnaval carioca este ano para não prejudicar as três agremiações que tiveram parte de suas alegorias destruídas pelo incêndio desta segunda-feira. O fogo atingiu galpões da Portela, União da Ilha e Grande Rio, sendo que esta última foi a que mais sofreu prejuízos.

Foto: Carlos Moraes / Agência O Dia

Bombeiros trabalham no controle das chamas do incêndio que destruiu parte da Cidade do Samba | Foto: carlos Moraes / Agência O Dia

"A minha sugestão é que nenhuma escola seja rebaixada porque nenhuma das três terão condições de competir. Por mais que os funcionários se esforcem, não há como disputarem o título. É claro que tudo isso vai depender das determinações da Liesa. Prefeito não é julgador, mas a minha sugestão é essa", afirmou Paes, portelense assumido. Atualmente, apenas uma agremiação é rebaixada do Grupo Especial para o Acesso A.

Vale lembrar que em 1983, não houve rebaixamento no Grupo Especial do carnaval carioca, na época chamado 1-A. Isso porque a Caprichosos de Pilares, que defendia o enredo "Um cardápio à Brasileira", não foi julgada por conta de uma falta de luz durante o seu desfile.

Apoio para colocar o carnaval na avenida

Mais cedo, Paes garantiu que a União da Ilha, Portela e Grande Rio não ficarão de fora do desfile na Marquês de Sapucaí este ano. Ele afirmou que as agremiações terão total apoio e respaldo da Prefeitura para reconstruir o carnaval a tempo de defenderem com garra seus enredos no Sambódromo.

"O carnaval carioca não irá perder seu brilho por causa dessa tragédia. Sei que será difícil para as escolas colocarem seu desfile na avenida, mas elas terão o total apoio da prefeitura e a coragem e a disposição de suas comunidades para isso. O que faz o carnaval do Rio é a força e a paixão de seus componentes e isso não se perdeu com o fogo", frisou Paes em entrevista à Globonews.

Foto: Carlos Eduardo Rodrigues / Agência O Dia

Uma grande nuvem de fumaça se formou no céu na região | Foto: Carlos Eduardo Rodrigues / Agência O Dia

O prefeito afirmou ainda que ainda esta semana terão início os trabalhos de reconstrução do prédio da Cidade do Samba. "Assim que o Corpo de Bombeiros autorizar a entrada no local, iremos iniciar as obras", garantiu Paes, que disse já ter entrado em contato com a empresa responsável.

De acordo com Elmo José dos Santos, diretor de Carnaval da Liesa, a possibilidade de nenhuma agremiação ser rebaixada é real. "Existem sim essa possibilidade, mas ela será discutida nesta reunião.

O importante é a união dos presidentes das outras escolas, que estão solidários com o que aconteceu à Ilha, Grande Rio e Portela e estão oferecendo ajuda para dar oportunidade para que todas possam defilar pela Sapucaí no carnaval", afirmou Elmo José.

Representantes das outras escolas já se comprometeram a disponibilizar mão de obra e material para ajudar na reconstrução do carnaval das agremiações prejudicadas pelo incêndio.

Grande Rio perde tudo

Completamente arrasado, o presidente Hélio de Oliveira, o Helinho, disse que é impossível reconstruir o que o fogo destruiu, mas que com a união da comunidade vai fazer de tudo para que a tricolor de Caxias desfile na Marquês de Sapucaí na segunda-feira de carnaval. "Por mim, desfilamos com a camisa da escola, sem fantasias, porque nem com muito dinheiro iremos conseguir reconstruir nosso carnaval", lamentou, com lágrimas nos olhos.

De acordo com Helinho, mais de três mil fantasias estavam guardadas no galpão e tudo foi destruído. "A única coisa que o fogo não queimou foi nossa vontade de desfilar", frisou. De acordo com diretores da escola, a estimativa inicial é de que o prejuízo causado pelo incêndio pode chegar a R$ 10 milhões.

Fogo começou no início da manhã

O grande incêndio que destruiu quatro barracões na Cidade do Samba, na Gamboa, Zona Portuária do Rio, começou por volta das 7h desta segunda-feira. Uma enorme coluna de fumaça escura de cerca de 500 metros tomou conta do céu na região.  O fogo se alastrou rapidamente, uma vez que muito material inflamável como cola, resina e isopores fica guardado no local.

Grande parte do telhado e paredes vieram abaixo por conta do fogo. Os barracões atingidos foram das escolas de samba Portela, Grande Rio e União da Ilha e um outro da Liga Independente das Escolas de Samba, que funciona como uma espécide de museu do carnaval.

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