sexta-feira, 6 de abril de 2012

Rocinha: PMs suspeitos de dar fuga a traficante

Sargento e quatro cabos do 23º BPM são investigados por suposta participação em planos de bandidos da quadrilha de Nem. Eles ficaram presos administrativamente

POR
Adriana Cruz
Maria Inez Magalhaes
Vania Cunha

Rio - A guerra entre traficantes na Favela da Rocinha, travada desde a ocupação policial na favela e que explodiu com a morte do cabo PM Rodrigo Alves Cavalcante, quarta-feira, passa pelo combate à corrupção de maus policiais.

Cinco militares do 23º BPM (Leblon) são investigados pela Corregedoria Geral Unificada (CGU), sob a suspeita de participação em planos de fuga da quadrilha de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, ex-chefão do tráfico na comunidade de São Conrado, preso em novembro por policiais do Batalhão de Choque, mesma unidade do cabo Alves.

Cabo Alves foi enterrado com honras militares: salva de tiros e banda da PM | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia

Cabo Alves foi enterrado com honras militares: salva de tiros e banda da PM | Foto: Carlo Wrede / Agência O Dia

Desde a ocupação, nove pessoas foram assassinadas na disputa de bandidos pelo domínio do território ocupado pela PM. Em janeiro, um sargento e quatro cabos do batalhão do Leblon foram punidos com até dez dias de prisão pelo comando da unidade. Em investigações, foi identificado que três deles, mesmo de folga ou fora do horário de serviço, estavam na favela, enquanto que outros dois também circulavam pela comunidade, mas fora de seus postos, no dia 10 de novembro.

Na data, marco do início do processo de pacificação, foram presos Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefe do tráfico no Morro de São Carlos, e Sandro Luiz de Paula Amorim, o Peixe, com outros dois comparsas. Eles estavam sendo escoltados pelo policiais civis Carlos Daniel Ferreira Dias, então lotado na Delegacia de Saúde Pública; Carlos Renato Rodrigues Tenório e Wagner de Souza Neves, da Delegacia de Roubo e Furtos de Cargas; o PM reformado José Faustino Silva e o ex-PM Flávio Melo dos Santos. Todos foram presos em flagrante.

A fuga dos bandidos valeria R$ 2 milhões. No mesmo dia 10 de novembro, Nem também foi preso, dentro da mala de um carro acobertado por advogados. Na ocasião, o bandido revelou que boa parte do seu lucro ia para o bolso de policiais corruptos. Agora, a CGU quer saber se o grupo de cinco PM punidos com prisão administrativa estava envolvido com a fuga de bandidos da quadrilha de Nem.

Preso suspeito da morte de policial

Quatro pessoas foram presas ontem na Rocinha pelo Batalhão de Choque, uma delas suspeita de participar do assassinato do cabo Alves. Os PMs chegaram à localidade 199 — onde o militar foi morto — através de informações repassadas ao Disque-Denúncia (2253-1177). Segundo a polícia, o preso Denilson Franklin Lima Virgílio, o Treta, seria um dos seguranças do traficante Inácio de Castro Silva, o Canelão, que dominaria a parte alta da favela.

Denílson Franklin (foto), o Treta, e um outro homem identificado apenas como Meteoro, são presos | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia

Denílson Franklin (foto), o Treta, e um outro homem identificado apenas como Meteoro, são presos | Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia

“Temos informações de que ele participou do ataque em que o policial foi morto”, contou o cabo William da Silva Ribeiro. Na casa de Treta, foi encontrada granada numa embalagem de perfume. A mulher dele também foi presa.

Segundo a delegada da 14ª DP (Leblon), Flávia Monteiro de Barros, a presa tentou esconder o artefato em uma gaveta. O casal foi indiciado por porte ilegal de explosivo. Em outra casa, foram presos homem identificado como Meteoro e a mulher dele. Na cozinha, havia 27 papelotes de entorpecentes.

A polícia continua à caça de Edilson Tenório de Araújo, apontado como assassino do policial militar. Carros da polícia circulam pela favela com a foto do criminoso.

‘Rodrigo era fonte de alegria’, diz o pai

Somente através da fé e dos abraços de amigos que o casal Osaid e Vera Cavalcante encontrou forças para enterrar o terceiro filho morto de forma violenta. O cabo Rodrigo Alves Cavalcante foi sepultado ontem no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, com honras militares: salva de tiros, banda da PM e pétalas de rosas jogadas de um helicóptero. A cerimônia contou com 500 pessoas, entre elas Luana, filha do PM, 12 anos.

cabo Alves num momento de folga: tiro em confronto atingiu a axila | Foto: Reprodução

cabo Alves num momento de folga: tiro em confronto atingiu a axila | Foto: Reprodução

“Um pai nunca está pronto para enterrar seu filho, e eu enterrei três dos meus. A morte é uma consequência da vida, mas só Deus sabe a dor que sinto. Estou dilacerado. Não sei como reestruturar a minha vida sem o Rodrigo, que era meu amigo e minha fonte de alegria”, disse o pai.

“Só Deus sabe o motivo de ter levado meu filho e só Ele pode nos confortar. Era um filho maravilhoso, mas chegou a hora dele”, desabafou a mãe.

Amparado por Ricardo, seu único filho vivo agora, Osaid criticou a Justiça e a política de segurança. “Do que adianta fazer UPP, se não colocam a parte social? A Justiça tem que mudar as leis para que os bandidos não sejam soltos tão fácil”.

O militar reformado recebeu condolências do comandante-geral da PM, coronel Erir da Costa Filho. “Foi uma fatalidade a que todos os PMs estão sujeitos. Não vamos recuar, a Rocinha continuará patrulhada”.

O Dia Online

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