Cláudio Motta
NOVA FRIBURGO - Os corpos que estão sendo retirados das áreas de deslizamento de terra em Nova Friburgo, na Região Serrana, estão sendo levados para o Instituto de Educação da cidade.
De acordo com o coordenador da Defesa Civil municipal, tenente-coronel Roberto Robadey, já foram computados 153 corpos. No entanto, a todo instante chegam mais vítimas.
A estimativa dele é de que nesta quinta-feira o número de mortes ultrapasse os 200. Do lado de fora do prédio, uma fila de pelo menos 50 pessoas aguardam para fazer o reconhecimento de parentes e amigos.
- Estamos com uma equipe de legistas que atuou no Morro do Bumba, em Niterói. Quarenta corpos já foram liberados para sepultamento. O trabalho continua e estamos tentando agilizar, adotando o procedimento sumário, que dispensa apresentação de documentos e identificação por parentes. Essa é uma medida de saúde pública. Não há tempo hábil - disse Robadey.
Do lado de fora do Instituto de Educação já é possível sentir um mau cheiro. Parentes de vítimas reclamam da dificuldade de chegar ao Centro para poder fazer a liberação dos corpos.
Patrícia de Souza se mudou para Nova Friburgo há sete dias, vinda de Itaocara. A casa em que vivia com os três filhos foi completamente destruída pela lama. Ela conseguiu escapar com a menina Evelyn Vitória, de 10 anos, e Paulo Gabriel, de 2. As crianças estão bastante machucadas e chorando muito. Ela espera a liberação do corpo de Carlos Daniel, de 6 anos, que não conseguiu resistir os ferimentos.
- Ele aguentou até a última Hora - disse Evelyn, que está com o olho inchado e reclama de dores no pescoço.
Na fila para identificação dos corpos, Antonio Reginaldo estava à procura da esposa, Adelira Gonçalves, e da filha de 15 anos, ainda desaparecida.
- A barreira desceu de uma vez, acabou com tudo. É muito difícil explicar essa situação. Não consigo nem falar. Minha filha ainda está debaixo da terra - contou Antonio.
Os parentes das vítimas reclamam ainda da dificuldade de comunicação, pois os telefones não estão funcionando.
Lojas cheias de lama continuam fechadas
As ruas da cidade continuam cobertas de lama e as pessoas tentando limpar o que é possível para abrir caminhos na manhã desta quinta-feira. Muitos colchões inutilizados pelos alagamentos estão nas calçadas. Várias lojas estão completamente tomadas pela lama, fechadas. A procura pelos postos de gasolina nas regiões periféricas da cidade é muito grande, com grande filas. Os postos próximo ao Centro sequer abriram. Na Avenida Comandante Bittencourt, um carro caiu no rio que cruza a via.
Vários carros cheios de lama estão sendo a todo tempo rebocados. O trânsito é confuso e lento na cidade. Em algumas casas a energia elétrica já voltou, mas os moradores permanecem sem água nem telefone. Por isso, a busca de informações por conhecidos ainda é uma preocupação.
Maria Amorim teve a garagem alagada, mas o apartamento não foi atingido. Ela se disse impressionada com o que vê na cidade e comemora o simples fato de ter conseguido comprar pão esta manhã.
- Nunca vi nada igual. Não tenho informações de parentes - disse ela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário