sábado, 22 de janeiro de 2011

Casa 'anda' cerca de 8 metros com a força da enxurrada em Itaipava, no RJ

A casa foi arrancada da fundação e arrastada até bater em outra casa.
A construção, localizada no Buraco do Sapo, não sofreu muitos danos.

Bernardo Tabak Do G1 RJ, em Itaipava

A casa se deslocou da esquerda para a direita e parou ao bater em outra residência.

Casa se deslocou da esquerda para direita e parou ao bater em outra residência. (Foto: Bernardo Tabak/G1)

Uma situação insólita ocorreu em uma localidade conhecida como Buraco do Sapo, no distrito de Itaipava, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio de Janeiro.

Em meio a muita devastação, com construções completamente destruídas, uma casa inteira foi deslocada por cerca de oito metros pela força da enxurrada que varreu o Vale do Cuiabá, onde fica a localidade.

A tragédia que assolou a Região Serrana do Rio de Janeiro, na madrugada de 12 de janeiro, provocou mais de 760 mortes e deixou mais de 25 mil desabrigados e desalojados.

A casa que "andou" ficou grudada na outra.

A casa que "andou" ficou grudada na outra.
(Foto: Bernardo Tabak/G1)

A casa, de dois andares, foi arrancada da fundação e arrastada até se chocar com outra residência. A cena surpreende porque a casa quase não sofreu danos, apesar de o primeiro andar ter sido invadido por água e lama. “A casa andou inteirinha. A minha prima mora no andar de cima e meu tio, no de baixo”, contou o estudante José Mário dos Santos, de 16 anos, que vive em uma casa ao lado.

“A água subiu muito rápido. Em cerca de 20 minutos tomou conta de tudo”, contou o programador de bordados José Renato Ribeiro dos Reis, de 42 anos, um outro tio de José Mário. “Quem mora no Buraco do Sapo, no Vale do Cuiabá, está acostumado a cheias de um metro. Mas, dessa vez, o rio subiu uns quatro metros. Quase invadiu o segundo andar da minha casa. Mais um pouco e a minha família tinha morrido”, recordou Reis.

O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Agostinho Guerreiro, disse que só é possível entender o que aconteceu fazendo uma análise no local. “Normalmente, a enxurrada é uma mistura de água com lama e outras coisas. Essa água é mais pesada e ganha muita velocidade ao descer o rio”, explica Guerreiro.

“Nessas regiões, é muito comum construir casas com uma estrutura muito mais forte do que a média. Uma hipótese é a casa ter funcionado como uma estrutura única, muito resistente. Quando veio a enxurrada, a casa cedeu na parte mais frágil, que nesse caso era a fundação. A parte superior andou, e a fundação ficou”, esclarece.

Guerreiro considera remota a possibilidade de trazer a casa de volta ao lugar original. “É uma operação muito complexa, com pouca probabilidade de sucesso. E o custo seria maior do que demolir a casa e construir outra”, explicou Guerreiro. “Fazer uma nova fundação onde a casa parou é uma possibilidade menos remota, mas ainda assim muito cara. A solução tradicional é aproveitar o que for possível, como portas e janelas, e construir outra casa”, complementou.

Moradores querem sair para lugar melhor

Muitas casas e carros foram destruídos no Buraco do Sapo. De acordo com moradores, uma pessoa morreu no local, e outros dois corpos, de pessoas que viviam em outros pontos do Vale do Cuiabá, foram trazidos pelo rio. Além disso, também foram recolhidos dois cavalos e uma vaca mortos. “Eu ainda não consigo responder se vou sair daqui. Estamos muito abalados e a ficha cai aos poucos. Mas não adianta ser arrancado daqui pela prefeitura para morar em um lugar que dê um nó ainda maior na minha vida”, disse Reis.

Já a operadora de máquina Sandra Silva de Paula, de 45 anos, nascida e criada no Buraco do Sapo, quer sair do lugar assim que puder. “Não quero mais ficar na minha casa. Além do rio, também tem um morro que pode desabar”, contou ela. “Se me derem alguma coisa, algum dinheiro pelo que sobrou da minha casa, eu vou tentar começar minha vida de novo”, complementou.

G1 - Chuvas no RJ

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