quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

'O que restava para mim era ver a justiça', diz mãe de João Roberto

 

Cabo da PM foi absolvido da acusação de homicídio do menino, na Tijuca.
'Chega o momento de a justiça ser feita, ela não é feita', opina o pai.

Do G1, no Rio, com informações da TV Globo

 

 

Depois da absolvição do cabo PM William de Paula no julgamento da morte do menino João Roberto, de 3 anos, pelo Tribunal do Júri na noite de quarta-feira (10), os pais do garoto, Alessandra Amorim e Paulo Roberto se dizem chocados com a Justiça. Em entrevista à TV Globo, Alessandra afirmou que se sentiu atingida por um tiro quando ouviu a sentença absolvendo William.
“Escutar da pessoa que matou que foi uma fatalidade, me desculpa, mas eu estar ali presente saber que não é fatalidade, e a sociedade representada pelos jurados confirmar a versão dele, dizer que ele tava no dever dele, ele tem o dever de matar, gente, isso e inconcebível. É como se tivessem metralhado meu carro de novo”, desabafou Alessandra

"O que não pegou em mim, pegou ontem (quarta-feira). O que restava para mim era ver a justiça, porque meu filho não volta atrás, e ela não foi feita. Mas eu tenho fé. A gente vai recorrer e ele vai pagar pelo que fez. Foi um tiro, mas ainda não morri, não. Ainda vou seguir em frente não só pelos que ficaram, pela família, por mim, pelo João, isso não pode ficar assim.”

Paulo também estava indignado com a absolvição de William.
“Você começa a se convencer de que a Justiça vai ser feita, as pessoas estão sensibilizadas, não vou ter que me preocupar com isso. Chega o momento de a justiça ser feita, ela não é feita, os caras são absolvidos”.

 

                    O crime

 

O crime aconteceu em julho deste ano. A mãe de João Roberto voltava da casa de uma tia na Ilha do Governador. Numa rua da Tijuca, na Zona Norte, ela encostou o carro para abrir passagem à patrulha. No entanto, ela e seus filhos foram cercados por policiais que participavam de uma perseguição. Alessandra jogou a bolsa do bebê pela janela para mostrar que havia crianças no veículo, mas os policiais atiraram. O carro da família foi alvo de 17 tiros. Alguns acertaram João Roberto.

“A ação foi antes da indagação. Não houve abordagem anterior nenhuma. Não houve tiro de alerta como ele disse ontem no tribunal”, disse Paulo Roberto, respondendo às alegações do PM, que disse no julgamento que teria dado dois tiros de advertência.

“Ele só atirou, depois confirmou”, continuou Alessandra, que completou: “Isso eu posso afirmar, porque eu estava ali. Não tenho motivo nenhum para querer desgraça de ninguém. Tenho motivo para querer justiça. Sei que ele [o PM] tem família, que ele estava trabalhando. Agora, que ele agiu de forma incorreta, ele agiu. Isso é claro.”

Segundo seu advogado Maurício Neville, o PM estava no estrito cumprimento do dever legal. O advogado informou que também vai recorrer da decisão: "Estou recorrendo para que ele seja absolvido de tudo, porque essa é a vontade do jurado. O artigo 23 do Código Penal, que é a excludente de licitude, que diz que é isento de pena quem está no estrito cumprimento do dever legal. Então ele não tem pena nenhuma porque ele não cometeu ilícito nenhum".

Período difícil

Os pais do menino contaram também que o período sem João está sendo difícil.

“Eu 'vejo' meu filho diariamente. A gente está tentando se reerguer, temos nossos momentos, mas é duro. Às vezes eu acordo e penso que isso não aconteceu, que ele vai entrar aqui dizendo bom dia, ‘oi mamãe, quero meu Nescau’, que era nosso dia-a-dia. Isso acabou. E se dar conta disso, viver sem isso é muito doloroso”, disse Alessandra.
“Não consigo ainda voltar a ser feliz com a minha mulher. A gente tenta conviver, mas a felicidade, momentos de prazer de você ver seu filho correr e te abraçar e dizer que 'te amo', tiraram isso de mim, e está sendo em vão”, disse Paulo.
Alessandra, grávida de cerca de três meses contou que o filho não foi planejado, mas será bem-vindo. “Uma criança preenche o lar”, disse ela, que já escolheu o nome da filha: Amanda.

Pensão para família

Em setembro deste ano, a juíza Cristiana Aparecida de Souza Santos, da 4ª Vara da Fazenda Pública, determinou que o estado pague por seis meses uma pensão equivalente a dez salários mínimos (R$ 4.150) ao taxista Paulo Roberto Barbosa Soares, pai de João Roberto.
A juíza deferiu ainda o pagamento de tratamento psiquiátrico, no valor de três salários mínimos mensais (R$ 1.245), não só para o pai, como para a mãe, Alessandra, o filho do casal, Vinícius, e os avós Cyrene da Silva Amorim e Lurimar Barbosa de Souza.

G1 > Edição Rio de Janeiro

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