sábado, 13 de dezembro de 2008

Cabral exige punição para PM

 

Irritado com a absolvição do cabo que matou o menino João Roberto, governador cobra atitude da corporação

Mahomed Saigg
Maria Inez Magalhães
Ricardo Villa Verde

Rio - O governador Sérgio Cabral mandou ontem um recado claro para o comando da Polícia Militar: ele exige que a corporação puna o cabo William de Paula, absolvido da acusação da morte do menino João Roberto, de 3 anos, por júri popular, na noite de quarta-feira. “O júri errou”, afirmou o governador, após participar de homenagem ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, na Associação Comercial do Rio (ACRJ).

“Espero que a PM o puna. Ele não serve como policial militar, nem para o serviço administrativo, tem de ser afastado. Ele não é preparado para ser policial militar, além de ter cometido um crime”, afirmou Cabral. O governador espera que a Justiça reveja a decisão de absolver o cabo. Para ele, o argumento da defesa, de que o policial agiu no cumprimento do dever “não convence”.

“É frágil. Atirar num automóvel sem saber quem está dentro, sem a reação de ninguém de dentro do automóvel é um crime bárbaro. A indignação dos pais do menino é a de toda a sociedade”, afirmou o governador.

O presidente do STF preferiu pedir paciência sobre o processo. Para ele, é preciso esperar que haja um pronunciamento definitivo da Justiça. “Vamos aguardar o pronunciamento em segundo grau”, afirmou Mendes.

Após a decisão do 2º Tribunal do Júri, o representante do Ministério Público, promotor Paulo Rangel, recorreu da decisão dos jurados pedindo novo julgamento. Já o advogado de defesa do policial, Maurício Neville, disse que vai lutar pela absolvição total de seu cliente. Livre da acusação de homicídio, o cabo William foi condenado por lesão corporal.

João Roberto foi morto em julho, na Tijuca, quando o carro em que estava com a mãe e o irmão foi atingido por tiros disparados por policiais militares que perseguiam um carro com bandidos. No julgamento, o cabo negou ter atirado contra o menino e disse que efetuou apenas disparos de advertência.

Nada a festejar no Natal

“Estou em estado de choque e há três noites sem dormir”. Mãe de João Roberto, Alessandra Amorim, 36 anos, conta que não consegue parar de pensar no que aconteceu na noite de quarta-feira, no 2º Tribunal do Júri, onde jurados absolveram o PM William de Paula. “Hoje (ontem) mesmo, às 4h, tive uma crise de choro. Está sendo muito difícil. E o pior é que, como estou grávida, não estou podendo nem tomar um calmante para melhorar”, desabafa.

Emocionada, Alessandra diz que sente a presença de João Roberto. “Converso com ele todos os dias. É como se estivesse ao meu lado o tempo todo. Dou bom dia, pergunto se ele dormiu bem... Foi uma maneira que encontrei para continuar sobrevivendo sem a presença física dele pertinho de mim”, conta ela, que fez questão de não se defazer da cama comprada para o quarto que João dividiria com o irmão caçula Vinícius. Brinquedos, roupas, fotos e trabalhos da escola estão numa caixa dentro do armário. “Não tive coragem de mexer”.

Alessandra preocupa-se com Vinícius. “Ela ainda é muito novinho para entender tudo o que aconteceu com a nossa família desde o dia do ataque dos policiais. Mas criança é muito sensível, no fundo acaba sentindo que estamos tristes, e começa a fazer de tudo para chamar a nossa atenção. Age como se tentasse fazer com que eu e o pai dele (Paulo Roberto) parássemos de chorar. Fico morrendo de pena, com o coração partido. E o pior é que, com tudo o que aconteceu, não temos condições de fazer festa de Natal”, completa.

A absolvição do PM é mais um trauma para Alessandra. “Temo que possa encontrar com ele na rua, já que moro próximo ao batalhão onde ele trabalha e essa possibilidade de encontrá-lo é um fato. Não sei qual seria minha reação”, admite ela, que está de licença no trabalho e fazendo terapia.

O DIA Online

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