segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Operação Purificação: PMs disputavam propina do tráfico, revelam escutas

Marcelo Bastos, do R7

Osvaldo Praddo/Agência O Dia

pms

A ganância dos policiais do Batalhão de Duque de Caxias (15º BPM) que mantinham envolvimento com o tráfico em 13 favelas da cidade, na Baixada Fluminense, era tão grande que eles chegaram a disputar a mesma propina, deixando confusos até mesmo os traficantes e provocando a baixa no valor do chamado “arrego”. Durante a operação Purificação, desencadeada na última terça-feira (4), 63 PMs e 11 traficantes foram presos.

Um exemplo da disputa pelo dinheiro do tráfico de drogas foi registrado no dia 6 de maio. Segundo denúncia da Promotoria, interceptações telefônicas flagraram o primeiro sargento Wagner Teixeira Gonçalves perguntando a um traficante da favela Corte Oito a que horas ele poderia passar na comunidade para receber o arrego.

O traficante diz que os “caras do postinho” já estavam pegando o dinheiro, em referência aos policiais do DPO (Destacamento de Policiamento Ostensivo) do bairro. O PM então demonstra indignação e lembra que havia ligado há uma semana e que, durante o plantão dele, em uma quarta-feira, os criminosos não haviam sido incomodados.

O traficante responde que, na quinta-feira, policiais ocuparam o DPO e disseram que a propina daquela região era para ser paga a eles. O sargento Gonçalves ameaça reprimir a venda de drogas e o traficante sugere que os policiais interessados entrassem em acordo e dividissem a propina. O traficante diz que deu o dinheiro para três “barcas” do DPO, como chama os carros usados pelos policiais, modelo Blazer.

O sargento Gonçalves rebate o traficante e diz: “você não sabe que a nossa são duas [viaturas], que tu já não manda R$ 500 para cada?”. O policial tenta convencer o criminoso a pagar o arrego a ele, dizendo que a escala de plantão dos policiais do DPO é de 12 horas de trabalho e que, por isso, o traficante teria de fazer pagamentos praticamente todo os dias, enquanto a escala dele é de 24 horas de trabalho por 72 horas de descanso. Com isso, o pagamento seria feito em intervalos de tempo maiores.

O sargento insiste e diz que o acerto entre eles era “coisa antiga e a do DPO era outra parada”. Na tentativa de mostrar que o arrego pago a ele causava menos prejuízo para os traficantes, o PM reforça: “a deles são três, a minha são duas”. O PM diz que não tem como pedir que os colegas parem de pegar o dinheiro. O traficante se justifica, alegando que as viaturas são todas iguais e ele não tem como saber de qual grupo são os PMs. Gonçalves ameaça e diz que, se no próximo plantão, o “arrego não for pago”, vai “bagunçar”, ou seja, fazer operações de repressão ao tráfico.

"Acabou o amor"

O traficante diz ao PM que, se ele quiser “cortar a parada”, pode cortar, porque ele não tem como fazer mais nada. Inconformado, o sargento entra em contato com o cabo Dario Fabrício Barbosa da Silva, às 20h55, explica o ocorrido e pede para ele ligar novamente ao traficante e dizer que “acabou o amor”. Fabrício diz já ter ligado e que o criminoso havia informado que só pagaria à “casinha”, outra referência ao DPO.

Por fim, o traficante cede, diz que quer tranquilidade e que o problema que está acontecendo precisa ser resolvido entre os próprios PMs. Ele diz que o chefe do tráfico só autorizou que o pagamento fosse feito a quatro viaturas, mas que os policiais do DPO trabalham em turnos de 12 horas e que acaba pagando quatro viaturas por dia, duas de manhã e duas à noite.

O criminoso sugere que Gonçalves divida esse dinheiro com os policiais do DPO. No dia 14 de maio, oito dias depois da conversa, o sargento Gonçalves acerta o recebimento de propina da favela Corte Oito referente a três viaturas. Como o traficante manda R$ 1.200, o PM reclama do valor, dizendo que deveria ser “uma caixa e meia” (R$ 1.500). O traficante responde que o chefe do tráfico só estava pagando R$ 400 por cada barca por causa do aumento do efetivo.

Aumento da criminalidade

As investigações sobre o envolvimento de PMs do 15º BPM com traficantes de Duque de Caxias, todos ligados à maior facção criminosa do Estado, começaram após a Subsecretaria de Inteligência ter detectado um aumento da criminalidade da região. A partir de então, a Polícia Federal foi acionada e a investigação foi dividida: a PF ficou responsável pelos traficantes e a Coordenadoria de Inteligência da PM, pelos militares.

A operação contou com a participação de quase mil policiais. De acordo com o comandante-geral da PM, coronel Erir da Costa Filho, todos os policiais militares serão presos no prazo máximo de 30 dias.

r7.com/rio

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