segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Carabina é a solução para a guerra do Rio?

Enviado por Milton Corrêa da CostaTenente coronel PM da reserva -

É preciso ter muita cautela e o Secretário de Segurança do Rio, apesar da difícil e complexa missão que lhe incumbe, tem se mostrado uma pessoa equilibrada e cautelosa, com uma possível decisão de substituição do fuzil pela carabina 0.30, como armamento da Polícia Militar, a ser usado em vias publicas na missão constitucional de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública.
É óbvio que o fuzil AR-15 e FAL (calibre 7.62), usados pela polícia, não são armas próprias para o combate urbano, mormente no enfrentamento a curta distância. Detalhe: há especialistas em armas que afirmam porém que o calibre 0.30 da carabina é ineficaz para o uso policial a partir de meia distância, uma vez que o tiro não é tão impactante o que possibilitaria ao delinquente permanecer atirando durante o confronto.
É preciso lembrar também (nem é tão preciso) que a situação do Rio é sui-generis, vivenciando uma ambiência de guerra urbana das mais violentas e sangrentas que já se teve notícia na história, onde uma criminalidade atípica aqui se desenvolve e difunde o medo, o terror e onde o grau de letalidade do banditismo, associado a um poder de fogo com armas de guerra é assustador. Os bandidos do Rio matam cerca de 4.000 pessoas em média por ano, sendo o tráfico responsável por cerca de 70 % (matéria já publicada em "O GLOBO") dos 6.000 homicídios que aqui ocorrem anualmente.
Nos últimos 12 anos mais de 1.400 policiais militares foram assassinados no Rio, sendo que 1/5 deles encontravam-se em serviço ( crime contra o estado). É como se a violência estivesse aniquilado todo o efetivo de um batalhão classe A da PM (1.200 homens) e mais 200 profissionais. Esse fato é inédito na história policial do mundo. O último assassinato de policial em Nova Iorque, por exemplo, se deu em 14 de julho do ano passado. Nem em Cáli e Medellin, na colômbia, tempos atrás, no auge da violência e do narcoterrorismo (mais de 100 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes) morreram tantos policiais.
Fica bem claro que a Secretaria Nacional de Segurança Pública cedeu à pressão de cientistas sociais e de grupos de direitos humanos que clamam pela implantação de uma política prevencionista, mas por enquanto meramente filosófica. As verbas destinadas pelo governo federal não poderão ser utilizadas na aquisição de armas de alto poder letal. A meu ver, a restrição não corresponde ao estado de guerra urbana que vivenciamos. Há que se ressaltar que os fuzis de última geração usados por narcoterroristas para atacar as forças de segurança nas intervenções em morros e favelas, são os mesmos utilizados nos "bondes do terror" no asfalto. O sargento morto covardemente no ataque que ceifou a vida de dois policias militares no Bairro da Lagoa, dias atrás, foi alvejado com dez tiros de fuzil, sete deles no rosto e na cabeça. Aí está a prova do grau assustador de letalidade do banditismo do Rio. Não é a polícia que mata mais hoje são as poderosas armas do banditismo que tornam os confrontos mais letais com baixas de ambos os lados. A polícia tem sim o dever de restaurar a ordem pública onde quer ela esteja ameaçada.
Ao invés de aposentar o fuzil no patrulhamento urbano, permanecendo obviamente para emprego nas incursões em morros e favelas, o mais lógico seria que a este se associasse a carabina 0.30 para emprego em situação de combate menos violento.O grau de adestramento do atirador é que determina a letalidade de uma arma e não simplesmente a sua potência. Não se pode dar ao banditismo a certeza de que a polícia tem um poder de fogo mais moderado e menos letal. Seria enfaquecer ainda mais os mecanismos de defesa da sociedade.Temos que desenvolver sim programas de qualificação e reciclagem profissional como vem sendo feito atualmente na Polícia Militar. Por enquanto a "Polícia de Shangri-lá " só é possível na irreal imaginação de cientistas sociais. A estes lembro que por enquanto, em termos de violência, o Rio só perde mesmo para Bagdá.

http://extra.globo.com/geral/casodepolicia/default.asp?a=481

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