domingo, 10 de abril de 2011

‘Minhas amigas ficarão para sempre no meu coração’

Menina que teve 8 amigas mortas acordou indisposta e pediu à mãe para não ir à escola

POR THIAGO FERES

Rio - Quinta-feira, 6h15. Como costuma fazer diariamente, Júlia Barbosa da Silva, de 13 anos, aluna da turma 1.801 da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, despertou com a ajuda dos pais para novo dia de estudos.

No entanto, um cansaço físico atípico a fez pedir para faltar à aula naquele que se transformaria no dia mais trágico da história escolar no Brasil. Das 12 crianças mortas, oito eram amigas de classe da menina. Outras três ficaram feridas.

Cerca de um quilômetro separa a residência de Júlia do colégio. Por isso, se atrasou em várias oportunidades. Apesar disso, não costuma faltar à aula. Ela e a mãe, a dona de casa Valéria Barbosa, 38 anos, atribuem a Deus a ausência naquele dia trágico.

Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

“Não tenho explicações racionais. Na noite anterior, ela nem tinha arrumado o material na mochila, como faz todos os dias. Alguns dias antes da tragédia, ela levantou às 6h47, 13 minutos antes do horário de entrada, me pediu dinheiro para ir de ônibus e foi”, conta a mãe da adolescente, acrescentando: “Imagina se eu a tivesse mandado para o colégio na quinta? Olha o peso que carregaria”.

Das amigas Karine Lorraine (14), Luisa Paula da Silveira (14), Milena dos Santos (14), Bianca Rocha (13), Ana Carolina Pacheco (13) e Mariana Rocha (12) — consideradas as mais próximas —, restaram apenas fotografias nas redes sociais e no quadro de fotos afixado sobre a cabeceira da cama. “Estou muito triste. Nós costumávamos ir juntas para o colégio. Não vou conseguir dar sequência aos estudos naquela escola. Vou trocar de ambiente e refazer amizades, mas minhas amigas ficarão para sempre no meu coração”, desabafou.

Júlia fez questão de comparecer aos enterros das amigas. Na sexta, recordou momentos felizes vividos por elas. E lembrou-se de história que mais parece premonição. “Semana passada, a Taiane (que levou três tiros, mas sobreviveu) sonhou que havia sido baleada. Ela disse que tinha medo de morrer”.

Hoje, Júlia receberá pela primeira vez a visita de um psicólogo da Prefeitura do Rio. “Uma funcionária da Assistência Social ligou para ela na sexta-feira e agendou uma conversa para às 11h. Esperamos que haja, de fato, um acompanhamento”, disse Valéria.

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