quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

'Achei que ia morrer, o telefone me salvou', diz pintor que se protegeu em elevador

POR ANGÉLICA FERNANDES

Rio - O pintor de paredes Alexandro da Silva Fonseca, de 31 anos, conseguiu se salvar do desabamento no prédio na Avenida Treze de Maio, no Centro, porque se refugiou dentro do elevador. Ele seguia para começar o expediente no 9º andar e, após o desmoronamento, pediu socorro pelo celular para um amigo que estava fora do prédio.

"Achei que ia morrer. Lembrei que estava com o celular no bolso e liguei para o meu compadre, que estava perto e e falou com os bombeiros. O telefone me salvou", afirmou Alexandro. Ele recebeu alta do Hospital Municipal Souza Aguiar e saiu sorridente ao lado de familiares. De acordo com o pintor de paredes, o elevador caiu e ficou preso entre os terceiro e quarto andares. O elevador caiu com a porta aberta.

Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia

Alexandro deixou hospital ao lado da mãe, Ioneide da Silva Fonseca Santos, de 60 anos | Foto: Paulo Alvadia / Agência O Dia

"A primeira coisa que pensei foi na minha família. Passou um filme na minha cabeça quando o elevador despencou. Não tinha a menor ideia do que iria acontecer, se iria ficar vivo ou morrer. Pedi muito a Deus. Orei muito. Os amigos do lado de fora me pediam para ficar calmo (pelo telefone). A única sorte que tive foi esse telefone. De dez em dez minutos ele (o amigo) me ligava para saber como eu estava. Eu falava que estava com muita fumaça, poeira e não conseguia enxergar nada. Assim foi até os bombeiros chegarem. Foi por mais de uma hora", relatou Alexandro.

Três corpos já foram encontrados, nesta quinta-feira, vítimas do desabamento. O engenheiro civil, especialista em estrutura do Crea, Antonio Eulálio Pedrosa disse pela manhã que a causa mais provável para a tragédia é alguma alteração estrutural feita no edifício de 20 andares . Eram realizadas obras no 3º e no 9º andar do prédio. "A empresa que realizava a obra pode ter retirado alguma viga a danificado toda a estrutura do prédio", afirmou.

Corpos foram resgatados na manhã desta quinta-feira | Foto: Severino Silva / Agência O Dia

No total, o Corpo de Bombeiros ainda procura por pelo menos 18 desaparecidos. Seis pessoas ficaram feridas. Cinco delas foram levadas para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Ccentro, e duas receberam alta. A sexta vítima procurou socorro por conta própria no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e também já foi liberada. Entre as vítimas fatais localizadas nesta quinta-feira estão os catadores de papel Moises Morais da Silva e uma mulher, identificada apenas como Margarida.

Três dos seis feridos no desabamento seguem internadas no Hospital Souza Aguiar. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, Cristiane do Carmo, de 28 anos, sofreu uma lesão no couro cabeludo, foi submetida a uma cirurgia e está em estado estável, sem previsão de alta. André Luiz da Silva, 37, e Marcelo Antônio Moreira, 50, que seria o zelador do prédio de oito andares, seguem internados, mas devem ser liberados nesta quinta-feira.

Entre os desaparecidos do desabamento está o analista de sistema Amado Tavares da Silva, de 45 anos. "Não quero acreditar que perdi o amor da minha vida", diz Elizabeth Senna namorada do desaparecido. Muito emocionada, Elizabeth conta que não deixará o posto de atendimento da Defesa Civil aos familiares das vítimas do desabamento. "Ficarei aqui até receber notícias dele", disse já chorando muito.

No momento do acidente, Silva estava trabalhando na empresa Tecnologia Organizacional (TO) que ficava no sexto andar do primeiro prédio que desabou. Para o presidente da empresa, Roberto Monteiro, que acompanha os trabalhos das equipes de busca, o cenário é "triste e não há muita esperança".

"Ontem (quarta) à noite, eu tinha uma equipe de 12 pessoas em treinamento na empresa. O curso terminaria às 21h. De todos os funcionários, só Amado permanece desaparecido", explicou Monteiro. Para ele, a esperança de encontrar sobreviventes fica menor a cada momento.

Crea afirma não haver registro de obra em prédio

Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia

Equipes seguem as buscas no local da tragédia | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia

O presidente do Conselho de Análise e Prevenção de Acidentes do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio (Crea-RJ), Luiz Antonio Cosenza, revelou na manhã desta quinta-feira que não há anotação no órgão de responsabilidade técnica nas duas obras que eram realizadas no prédio de 20 andares. Segundo ele, o último registro de comunicação de realização de reparos no edifício Liberdade é datado de 2008.

Ao contrário do prefeito Eduardo Paes, que praticamente descartou a possibilidade do desmoronamento ter sido provocado por uma explosão de gás, Cosenza disse que nada está sendo descartado pelo Crea. "Já sabemos que duas obras eram realizadas no terceiro e no nono andar do prédio. Para nós esse desmoronamento é uma surpresa. Segundo nossos especialistas, esses prédios do Centro do Rio são antigos e não tem um estrutura frágil. Estamos apurando o que houve", afirmou.

Ainda de acordo com Cosenza, o Crea tenta identificar o engenheiro responsável pela obra. O órgão quer saber que tipo de reforma estava sendo feita e o tipo de material usado. Caso não haja um representante técnico legal no comando da reforma, o dono da empresa pode ser denunciado por exercício ilegal da profissão, já que indiretamente teria assumido o risco.

Tragédia fecha ruas no Centro

Por conta do incidente, a Rua Evaristo da Veiga; a Avenida Almirante Barroso, entre Rio Branco e Senador Dantas, acesso à Avenida Rio Branco pela Avenida Presidente Vargas e Avenida Chile, encontram-se interditadas ao tráfego de veículos em ambos os sentidos. O desvio da Almirante Barroso para quem vem da Avenida Rio Branco está sendo feito pela Rua da Carioca. Quem vem da Avenida Henrique Valadares está sendo feito pela Rua Gomes Freire, acessando a Rua Mem de Sá e a Rua do Passeio.

De acordo com testemunhas, um tremor foi sentido pro volta de 20h30 junto de forte estrondo na hora do desabamento e uma grande nuvem branca tomou conta da região. Nos arredores do prédio foram ouvidos diversos gritos de socorro. Diversos veículos foram atingidos e há relatos de cheiro de gás no local. Cinco vítimas foram socorridas com vida logo após o desabamento e encaminhadas para o Hospital Souza Aguiar.

Em virtude do desabamento a Secretaria de Estado de Saúde colocou em alerta todos os hospitais da rede pública estadual e as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da Tijuca e Botafogo, que são as mais próximas. O secretário de Saúde Sérgio Côrtes também esteve no local.

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