sábado, 10 de abril de 2010

Segurança de Rogério Andrade sob suspeita de colaborar com a explosão

Máfia do bicho em guerra

Marcos Nunes e Paulo Carvalho

Rogério Andrade está internado no Hospital Barra D´Or. - Foto: Marcos Nunes

Horas antes do atentado que feriu Rogério de Andrade, na quinta-feira, quando o Toyota Corola blindado do bicheiro explodiu, na Barra da Tijuca, matando o filho dele Diogo Andrade, de 17 anos, o automóvel foi deixado de lado por um segurança, encarregado de vigiá-lo, no estacionamento de uma academia de ginástica, em um shopping, no Recreio.

A informação foi recebida, nesta sexta-feira, pela Delegacia de Homicídios (DH), encarregada de investigar o caso. Uma das hipóteses investigadas pela polícia é a de que um explosivo foi colocado debaixo do carro.

Pai e filho haviam deixado a academia de ginástica, a bordo do Toyota, dirigido por Diogo, quando o veículo explodiu, ao parar em um sinal da Avenida das Américas, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio.

O segurança, que já teria sido interrogado por homens de confiança de Rogério, negou qualquer participação no atentado.

No entanto, ele e outros quatro seguranças, todos policiais militares, foram presos administrativamente por 72 horas pelo comando da Polícia Militar. A Polícia Civil já sabe que o Toyota passou por uma revisão mecânica, cinco dias antes do atentado, em uma concessionária localizada na Barra da Tijuca. Quando não estava rodando com Rogério, o Toyota ficava guardado na garagem do condomínio do contraventor na Barra da Tijuca.

Nesta quina-feira, o advogado Luiz Carlos Silva Neto, responsável pela defesa dos interesses de Rogério Andrade, disse que vai pedir escolta policial para seu cliente sair do Hospital Barra D’Or, onde está internado. A alta médica pode acontecer ainda neste sábado. 
Silva Neto também alegou ter entrado com um pedido, junto à Secretaria de Segurança, para que Rogério de Andrade receba proteção da PM quando estiver em casa.

— Estou pedindo à polícia reforço da segurança no hospital, na escolta no trajeto até a casa dele e proteção da polícia na residência. Meu cliente está nervoso e teme ser assassinado. Podem tentar eliminá-lo a qualquer momento — alegou o advogado.

Uma patrulha da PM ficou parada durante toda a tarde na porta do hospital, nesta sexta. Policiais civis reforçaram a segurança do local, para evitar um novo atentado contra o bicheiro.

Fernando Iggnácio: acusado por amigos de bicheiro

Mesmo com dificuldades para falar — Rogério ainda está se recuperando de uma cirurgia plástica de quatro horas para reconstrução de parte do rosto — o contraventor admitiu para amigos ter um palpite sobre a autoria intelectual do atentado que matou seu filho Diogo. Para ele, o mandante da explosão, ocorrida na quinta-feira, foi o bicheiro e inimigo declarado Fernando Iggnácio, genro do falecido contraventor Castor de Andrade.

— Não há dúvida que foi o Fernando Iggnácio — disse um dos amigos de Rogério de Andrade, que pediu para não ser identificado.

A hipótese é uma das linhas seguidas por investigadores da Delegacia de Homicídios. Iggnácio, que foi acusado de travar com Rogério uma guerra por controle de pontos de caça-níqueis na Zona Oeste, será uma das pessoas intimadas para prestar esclarecimentos sobre o caso.

De acordo com amigos, Rogério de Andrade era muito próximo do filho que morreu no atentado. Mesmo estando no Centro de Tratamento Intensivo do Barra D’Or, ele teria cogitado a hipótese de assistir o enterro, mas foi impedido pelos médicos.

— Assim que soube da morte do Diogo, Rogério disse que não saberia o que fazer daqui pra frente sem o filho. Ele não teve condições para ir ao enterro porque seu estado ainda inspira cuidados — disse um dos amigos do contraventor.

Rogério de Andrade soube da morte de seu filho caçula — é pai de outro rapaz de 19 anos — na noite de quinta-feira. O atentado também destruiu uma motocicleta, ocupada por um motoboy que passava pelo local e um Vectra da segurança do contraventor.

Diogo é enterrado no São João Batista

            Diversas coroas de flores foram deixadas no túmulo de Diogo Andrade. - Foto: Marcelo Theobald

Debaixo de uma chuva fina, cerca de 70 pessoas, entre parentes e amigos próximos, compareceram ao enterro do jovem Diogo de Andrade, na tarde de sexta-feira, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. Silenciosa e reservada, a cerimônia foi marcada por comoção e tristeza.

Muito emocionados, nenhum dos presentes quiseram falar com a imprensa. Uma mulher chegou a reclamar da presença dos jornalistas, que acompanhavam o sepultamento de longe. Diogo foi sepultado no jazigo 1318A.

Inicialmente previsto para as 17h, o enterro foi antecipado em uma hora. O corpo foi velado na capela 3 do cemitério, cujas portas ficaram fechadas a maior parte do tempo. Um segurança ficou na porta, controlando a entrada dos convidados. Apenas familiares e amigos tiveram acesso ao local.

Internado no Hospital Barra D’Or, o bicheiro Rogério de Andrade, pai de Diogo, não pôde comparecer ao enterro do filho, mas enviou uma coroa de flores, que dizia “Jamais te esquecerei. Com amor e saudade de seu pai”. Outros parentes, amigos da academia e advogados da família Andrade também deixaram homenagens. Havia ainda uma coroa enviada pela família Paes Garcia.

PMs que acompanhavam bicheiro estão presos administrativamente

Os cinco policiais militares que acompanhavam o bicheiro Rogério de Andrade estão respondendo a uma sindicância na corporação. Todos confirmaram em depoimento que faziam a escolta do contraventor.
Eles estão presos administrativamente por 72 horas e, dependendo do resultado das investigações, poderão ser submetidos a um Inquérito Policial Militar (IPM).

Um terceiro sargento do 17º BPM (Ilha do Governador), um cabo do Batalhão de Choque, um cabo do 3º BPM (Méier), um soldado do 23º BPM (Leblon) e um soldado do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) relataram que o Corolla dirigido por Diogo de Andrade, filho do bicheiro, explodiu na frente deles. Segundo os policiais, nenhum artefato foi jogado.

A declaração dos PMs reforça a tese da polícia de que uma bomba teria sido colocada no fundo do carro. Somente o laudo do Esquadrão Antibombas vai concluir se realmente um detonador à distância foi usado para explodir o carro.

O carro onde estava Rogério Andrade e seu filho foi explodido no Recreio. - Foto: Gabriel de Paiva/08.04.2010

Rogério de Andrade saiu do local da explosão dentro de um veículo que foi parado no meio da Avenida das Américas por um de seus seguranças. O motorista, que estava acompanhado de uma outra pessoa, foi obrigado a dirigir até o Hospital Barra D’Or. Os dois prestaram depoimento na Divisão de Homicídios (DH) e confirmaram a versão.

Agentes da Divisão de Homicídios não estão descartando qualquer hipótese, nem a de que algum dos cinco seguranças pode estar envolvido no atentado. Rogério de Andrade deverá ser ouvido duas vezes. Nesta sexta, policiais da DH foram ao Hospital Barra D’Or, mas ele estava sedado.

Primeiro atentado foi em 2001

Em 2001, na primeira vez em que sofreu um atentado, Rogério de Andrade acusou Fernando Iggnácio de Miranda como o mandante do crime. Ele chegava ao apartamento da namorada, num apart-hotel na Barra da Tijuca, quando foi surpreendido pelo cabo fuzileiro naval da reserva Eduardo Oliveira da Silva, de 48 anos, que estava escondido debaixo da cama do quarto que ocupava.

Rogério escapou porque a arma do fuzileiro engasgou no primeiro disparo. Houve uma briga e o matador só foi embora porque ficou com medo dos seguranças de Rogério. As investigações da 16 DP (Barra da Tijuca) apontaram que havia se hospedado no flat 15 dias antes da tentativa de homicídio.

Dois dias depois a juíza Maria Angélica Guimarães Guerra Guedes decretou a prisão temporária de Fernando Iggnácio e do fuzileiro naval. Nas investigações, ficou constatado que foram feitas várias ligações do celular de Eduardo para o de Fernando.

Caso de Polícia: Extra Online

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