quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Xerém enfrenta agora os exploradores da dor alheia

Comércio local inflaciona preço de tudo, da água para beber até o pano de chão. Quem teve as casas atingidas na enxurrada faz vigília para evitar saques a imóveis

Por Fernanda Alves

Rio - Depois de perder tudo ou muito do que tinham na enxurrada do último dia 2, moradores de Xerém, distrito de Duque de Caxias, enfrentam agora a ganância do comércio da região, que inflacionou os preços da noite para o dia, se aproveitando do drama.

Nos mercados, itens básicos como leite e material de limpeza subiram muito. Um galão de 20 litros de água, que antes custava no máximo R$ 10, está saindo por até R$25. As vítimas também enfrentam saques às casas que foram interditadas.

Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Foto: Severino Silva / Agência O Dia

Ontem, a gerente do principal supermercado da localidade foi presa e libertada sob fiança. Policiais da Delegacia do Consumidor (Decon) fizeram operação e constataram irregularidades: além de preços abusivos, foram encontrados produtos fora da validade. “Um pano de chão estava sendo comercializado por R$ 7,25, o que é um absurdo”, disse o delegado titular, Paulo Roberto Freitas.

A dona de casa Renata Souza, 29 anos, que foi até o mercado comprar um pano para limpar sua casa, alagada na enchente, ficou assustada. “É triste ver gente se aproveitando da nossa desgraça. Pano de chão custa no máximo R$ 4”, lamentou. O supermercado informou que não aumentou preços com as chuvas e que o galão de água custa R$ 25 porque vem com a base.

VIGÍLIA CONTRA SAQUE

A família do promotor de vendas Carlos da Silva, 34 anos, que viu parte de sua casa arrastada pela força do Rio Capivari, acampou à beira do rio, em barraca improvisada de madeira e plástico. “Estão saqueando as casas vazias, então vim cuidar do pouco que me sobrou”, disse.

Ele dorme com mais cinco pessoas no espaço, com chão de terra, sem luz e só come quando voluntários doam quentinhas.

O grupo montou protesto no local: instalaram uma ‘sala de estar’ no meio do rio, com móveis que restaram do desastre, e colocaram uma boneca inflável sentada tomando café. Num cartaz, pedido de ajuda ao estado.

Prefeito promete uma ‘nova Xerém’

Ontem, o prefeito de Caxias, Alexandre Cardoso, prometeu começar a construção de “uma nova Xerém”.

Ele afirmou que esta semana ainda irá a Brasília falar com o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra, sobre os R$ 30 milhões que seriam necessários para ajudar as vítimas e reconstruir parte do distrito.

Segundo ele, em dois meses, começarão a ser construídas novas casas, em áreas seguras. Mais oito casas foram demolidas ontem na margem do Rio Capivari. Ao todo, 150 serão removidas.

O Dia Online

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