Cerca de 75 pessoas permanecem em estado grave com risco de morrer
Rio Grande do Sul - Subiu para 143 o número de pessoas internadas em Santa Maria e Porto Alegre, vítimas do incêndio na Boate Kiss, na madrugada do último domingo. São cerca de 20 pessoas a mais que procuraram os serviços de saúde porque estiveram na casa noturna no momento da tragédia e apresentaram sintomas como cansaço e falta de ar, típicos da pneumonite química que pode ocorrer até cinco dias depois do acidente. Essas pessoas estão internadas em observação e o quadro pode evoluir para a necessidade de respiração por aparelhos.
Os números foram divulgados pelo porta-voz da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS), Neio Pereira. Segundo ele, o número de pessoas em estado crítico, com risco de morte, permanece em 75. Eles estão dentro de um grupo de 82 pessoas internadas em unidades de terapia intensiva (UTIs), sendo que desses, 57 estão em Porto Alegre e 25 em Santa Maria. Não há previsão de novas transferências, nesta quarta-feira, de pacientes para a capital.
Segundo Pereira, há também a preocupação com os sintomas pós-trauma, que podem atingir as famílias à medida que o tempo da tragédia vai passando.
“O estresse causado pelo trauma muitas vezes demora de 48h a 72h para aparecer. As pessoas começam a entrar em depressão pelo luto, o que é normal. Pessoas que estavam lá dentro e saíram, familiares que começam a apresentar alguns sintomas”, explicou o médico.
Por isso, o Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Santa Maria está atendendo, durante 24 horas, com equipes de psicólogos e psiquiatras, inclusive voluntários. As autoridades de saúde pedem que caso seja observada a necessidade de acompanhamento para pessoas que perderam parentes e amigos na tragédia, elas devem ser levadas ao Caps para atendimento.
Enterros são marcados por indignação e serenidade
Vítimas de tragédia em boate são enterradas em cemitério na cidade. Familiares e amigos prestam as últimas homenagens
Foto: Ernesto Carriço / Agência O Dia
Negligência culminou incêndio
A tragédia, que aconteceu na madrugada do último domingo matou ao menos 235 pessoas e feriu mais de 100 vítimas. Muitas permanecem em estado grave. Segundo testemunhas, o acidente teria sido provocado pela utilização de um sinalizador — um fogo de artifício chamado "sputnik" — durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira.
A suspeita é de que uma faísca do artefato tenha atingido a espuma do isolamento acústico no teto do estabelecimento, que, em poucos minutos, foi tomado pelas chamas. O fogo provocou pânico e muita gente não conseguiu acessar a única saída do local. Os proprietários do estabelecimento não tinham autorização dos bombeiros para organizar um show pirotécnico na casa noturna, já que o alvará da casa estava vencido desde agosto de 2012.
Testemunhas disseram que, em um primeiro momento, os seguranças impediram que pessoas saíssem na boate. Eles queriam que os clientes pagassem a comanda antes de serem liberados. Após tomarem conhecimento do incêndio e suas reais proporções, a passagem foi liberada.
A polícia já realizou perícia no local e dois donos da boate Kiss e mais dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira foram presos em caráter provisório por cinco dias. A prisão pode ser prorrogada por mais cinco dias. A prisão das quatro pessoas foi motivada por conta do sumiço de um computador que armazenava todas as imagens registradas na boate por meio de câmeras de segurança.
Em depoimento, um dos donos da boate, Elissandro Spohr alegou que os aparelhos de videomonitoramento foram retirados para manutenção há cerca de três meses.
Passeata pelos anjos de Santa Maria
Na tarde desta terça-feira, cerca de 35 mil pessoas foram às ruas de Santa Maria para uma passeata pelo jovens mortos na tragédia. A cidade, que está completamente consternada, deposita flores e cartazes em frente à boate Kiss. O prefeito da cidade, Cesar Schirmer, declarou que o local será tranformado em memorial, em homenagens às vítimas da tragédia que chocou o mundo.
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