domingo, 25 de novembro de 2007

Marcus Jardim: 'Quem não gosta do Caveirão, gosta de maconha'

Marcello Victor, Agência JB
RIO - Ele comanda o combate a criminalidade - principalmente traficantes de drogas das comunidades dos complexos da Vila Cruzeiro e do Alemão - na região mais nervosa do Rio de Janeiro. Em entrevista ao JB Online, o coronel Marcus Jardim Gonçalves, de 45 anos, do 16º BPM (Olaria), explica o motivo que o levou a presentear, no último dia 9, o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extra-Judiciais, Philip Alston, com uma réplica de 30 centímetros do Caveirão, o veículo blindado da PM, alvo de críticas dos órgãos de defesa dos direitos humanos nas ações policiais. “Quem não gosta do Caveirão, gosta de maconha. Quem não gosta do Caveirão, gosta de cocaína”, disparou contra os opositores.
Há 25 anos na Polícia Militar, tem dois grandes orgulhos na vida: ter nascido em Niterói e ser flamenguista. Com passagens por seis diferentes batalhões, nomeou de Fla-16 o grupo de policiais rubro-negros de folga que foram acompanhar o jogo do rubro-negro da Gávea contra o Cruzeiro, em Belo Horizonte, capital mineira. Apesar de ter incentivado o grupo, não pode ir. Ossos do ofício: dois de seus homens foram assassinados dois dias antes e teve que ficar no Rio para cuidar dos enterros.
Além de dispensar o uso de calça nos fins de semana, ele doa cestas básicas a comunidades carentes. “Não tem preço”, diz o coronel.
JB Online: Como é comandar a unidade responsável pelo policiamento na região mais conflagrada do Rio de Janeiro?
Marcus Jardim: Comandar o 16º BPM é viver uma rotina totalmente alucinada nas várias etapas do dia. É uma situação surreal como nenhuma outra área do Rio de Janeiro tem. É uma série de problemas que perduram a muito tempo. É um ritmo alucinante, uma rotina de manter-se vivo, de olhar para os lados e estar sempre atento a qualquer desafio, a qualquer hora do dia.
JB Online: O senhor presenteou o relator especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Execuções Arbitrárias, Sumárias ou Extra-Judiciais, Philip Alston, com uma réplica do veículo blindado da PM, o chamado "Caveirão", muito criticado por organizações de defesa dos Direitos Humanos. Acha que ele gostou? Não foi um presente constrangedor?
Marcus Jardim: Ele ficou extremamente surpreso com o presente. Tem a questão das tradições culturais de povos, de etnias. Por exemplo, o nascimento de Jesus Cristo quando os reis magos levaram especiarias como incenso. Ele se manifestou com um sorriso. Não temos a dimensão da sinceridade dele. Fiz esse ato consciente para mostrar o quanto é importante o blindado para os policiais trabalharem na guerra urbana do Rio. Porque o que nós vivemos é uma guerra urbana. O guerreiro tem que se defender. Os que são contra a utilização do blindado, com todo o respeito, dão a conotação de que não estão familiarizados com a situação ou envolvidos com coisas escusas. É inconcebível ver um policial morrer. O blindado permite se chegar ao objetivo. Quem não gosta do Caveirão gosta de maconha. Quem não gosta do Caveirão, gosta de cocaína. Tomara que ele (Philip Alston) faça bom proveito, que divulgue e não destrua.
JB Online: O que faz o comandante do 16º BPM quando não está atuando à frente de sua unidade no combate a criminalidade?
Marcus Jardim: Sou flamenguista. Não perco um jogo. Recentemente incentivei a viagem de 40 policiais aqui do batalhão a Belo Horizonte para assistir ao jogo contra o Cruzeiro. Intitulei o grupo de Fla-16, referência ao número da nossa unidade. Infelizmente não pude ir devido ao assassinato de dois policiais nosso na Cidade Alta. Tive que ficar para tratar das questões relativas ao enterro. Nas horas de folga vou a feira, ao mercado de peixes em Niterói, cidade onde nasci há 45 anos. Sou uma pessoa normal. Ando de bermuda, de chinelo de dedo. Não boto calça por nada nos fins de semana. Pelo menos uma vez por mês faço distribuição de cestas básicas em comunidades carentes. Isso não tem preço.

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