domingo, 25 de março de 2012

Tenor de Magé é comparado a Luciano Pavarotti

Eletícia Quintão

A vida é a maior inspiração para o cantor lírico Jacques Rocha. Foi em meio às lutas e às dificuldades que ele descobriu, ainda menino, que cantar aliviava o sofrimento e trazia paz à alma. Hoje, aos 34 anos, o dom para o canto, que aflorou, instintivamente na infância, pode transformá-lo, segundo maestros e professores, em um novo Pavarotti.

Filho de professora e pedreiro, Jacques aprendeu muito cedo que a vida pode ser dura. Quando tinha apenas 8 anos, a mãe teve um aneurisma. Esta seria a primeira doença, de muitas que viriam com a hipertensão. Filho dedicado, arrimo de família, ele cuida dela — que teve sete derrames — até hoje e ainda ajudou a criar o irmão mais novo, atualmente com 15 anos.

O cantor de Magé Jacques Rocha posa em frente ao Teatro Municipal

O cantor de Magé Jacques Rocha posa em frente ao Teatro MunicipalFoto: Nina Lima / Extra

Era nos momentos de angústia que Jacques cantava para desanuviar os pensamentos. Não tinha discos de música clássica, nem ninguém na família que cantasse.

Negro e de família humilde, nascido e criado em Santo Aleixo, no município de Magé, ele é o estereótipo de quem não gosta de ópera— ou não deveria gostar. No entanto, aos 10 anos, já era apaixonado por música clássica. Passou a infância ouvindo óperas, em um radinho de pilha, sintonizado na Rádio MEC.

— Nunca tive uma vida fácil. Quando me sentia triste e com o coração apertado eu cantava embaixo do chuveiro — brinca ele, que já chegou a dormir na rua, com mendigos, por falta de dinheiro para pagar o táxi.

Ele começou tarde a buscar o ensino do canto lírico, mas foi aprovado pela banca de exames da escola de música Villa-Lobos, aos 21 anos.

Joel Teles de Souza, 60 anos, o primeiro professor, conta que tem com Jacques uma história de amizade e identificação.

— Ele é dono de uma voz excepcional. Pode se tornar o próximo grande nome do canto erudito.

Há menos de dois anos, Jacques procurou a professora de canto Teresa Fagundes para apurar a técnica. Cheia de orgulho, ela afirma que o cantor é uma das maiores descobertas, dos últimos tempos:

— Ele tem uma voz generosa e superagudos fáceis. Jacques supera todas as expectativas. Pode ser o nosso Pavarotti — afirma a professora de canto.

Theatro Municipal: aprovado com louvor

Em 2008, durante uma audição pública, Jacques foi aprovado com louvor para o coro do Municipal. O diretor artístico interino e regente titular da orquestra sinfônica do Municipal, o maestro Silvio Viegas, diz que Jacques sempre buscou o seu caminho.

—Ele participou de três óperas como solista. Todos só têm elogios a ele.

Para Fernando Bicudo, diretor artístico da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), o cantor tem futuro.

— Quando o vi cantando pela primeira vez a ópera "A filha do regimento" , de Donizetti, fiquei impressionado. Ela tem nove dós, é dificílima. Ele alcança notas como Pavarotti. E acrescenta:

— Trabalho não vai faltar. Ele vai abrir a temporada da OSB, com a primeira audição no Brasil da ópera "O rei pastor", de Mozart.

Será no dia 6 de maio, às 15 horas, no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico.

Extra Online

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