domingo, 8 de maio de 2011

Detran-RJ cai em exigência na vistoria do ‘DIA’

Equipe do jornal faz flagrantes de burocracia, filas e falhas do departamento que levam usuários a perder tempo e dinheiro

POR FRANCISCO EDSON ALVES

Rio - Burocracia, demora no atendimento e consequentes longas filas, e falhas técnicas. Os serviços do Detran-RJ passaram pela ‘Blitz do Dia’ e, na vistoria, caíram em exigência. Durante três dias, equipe do jornal esteve em postos de atendimento e ouviu muitas queixas de usuários que não só perderam tempo, mas também, em várias situações, dinheiro.

É o caso do empresário Everson Almeida Marinho, 47 anos, morador de Duque de Caxias, na Baixada, que arrematou a Kombi LNM-5069 num leilão do Detran em 27 de novembro de 2008. Gastou cerca de R$ 11 mil com melhorias no veículo, taxas e dois IPVAs. No início de 2009, recebeu comunicado de que a compra deveria ser desfeita, pois o automóvel estava com “restrição judicial”.

Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

Henrique Altivo mostra boleto que recebeu do Detran para pagar multa que não constava no sistema de banco. Motorista teve prejuízo de pelo menos R$ 1 mil para retirar carro de depósito | Foto: Fabio Gonçalves / Agência O Dia

“Entreguei todos os documentos da transação (ao Detran), mas, até hoje, não me devolveram um centavo sequer”, lamenta Everson, ao lado da Kombi, que apodrece em seu quintal.

Retirar carros apreendidos em blitz dos depósitos públicos também pode dar dor de cabeça. O motorista Henrique Altivo, 36, teve seu Zafira rebocado em 28 de abril, no Centro. “Para meu espanto, ninguém no Detran sabia dizer para qual depósito meu veículo tinha sido levado.

Disseram que o sistema (de informática) estava fora do ar”, afirmou. Na segunda-feira, ele descobriu que o automóvel estava em depósito do Caju. A via-crúcis, então, recomeçou.

Ele tinha multa por avanço de sinal (R$ 85,03) e, para retirar, o carro deveria pagá-la. Só que a infração só aparecia no sistema do Detran, não no do Banco Itaú. “Mesmo querendo, não tinha como pagar. Paguei R$ 250 a um despachante, que só resolveu o problema na terça.

Ainda fui obrigado a pagar, numa lotérica determinada pelo Detran em Benfica, na Zona Norte, cinco diárias de depósito (R$ 227,60) e o reboque (R$ 112,67)”, conta.

Cinco mil agendaram mas não podem renovar carteira

Um problema técnico tem tirado o sono de pelo menos 5 mil motoristas que estavam com renovação da carteira de habilitação agendada e tiveram seus dados apagados. Para piorar a situação, o sustento de alguns deles depende da permissão para dirigir.

O taxista Antônio Carlos Ferreira Soares, 38 anos, de Niterói, é um exemplo. Na quarta-feira, dois dias antes de vencer o prazo legal para renovar habilitação de documento vencido, ele foi à sede do Detran e saiu frustrado. “Disseram que meus dados tinham sumido do sistema e que nada podiam fazer. Estou desesperado e com medo de perder o emprego na minha cooperativa. Em 20 anos de profissão, jamais passei por um constrangimento desses”, afirma Soares, que sem ter como trabalhar, não sabe como pagar suas contas e dívidas.

Devido a alterações no sistema de emissão de habilitações renovadas, cujo documento antigo era sem foto, aliada a falha do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) — que mantém banco de dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) —, foram prejudicados 10% dos 50 mil motoristas que haviam agendado a renovação.

Segundo a diretora geral de Habilitação do Detran-RJ, Janete Bloise, a situação só deverá se resolver dentro de 15 dias. “Estamos fazendo adequações no sistema”, responde.

Demora para emissão de carteira de identidade

Além das constantes quedas no site do Detran, que deixam vários serviços fora do ar, há queixas ainda de demora na emissão de Carteira de Identidade. Pela Internet, o usuário Ricardo Naves se queixa de uma espera de quase três meses pela segunda via.
Marcos Siliprandi, diretor de Identificação do órgão, garante que, em média, a segunda via é liberada em 24 horas. Por mês são emitidas 6 mil carteiras. “Só há algum atraso quando há a necessidade de checar documentos em cartórios”, explicou.

'Não há como acertar 100%'

Presidente do Detran-RJ, Fernando Avelino reconhece o que chama de “falhas isoladas”, mas garante que o órgão vem se esforçando para melhorar a prestação de serviços. “Não há como acertar 100% numa instituição que recebe 25 mil pessoas por dia e que deve atingir este ano a marca histórica de 2,3 milhões de vistorias. Temos investido na contratação de pessoal qualificado, como os 1,5 mil concursados recentemente, e em novas tecnologias”, assegurou.

Alessandro Rohnelt, presidente da Comissão de Leilões do Detran, reconhece que o dinheiro investido pelo empresário Everson Marinho já deveria ter sido restituído. “Vamos acelerar o processo e resolver o caso ainda neste semestre”, prometeu.

Já André Câmara, responsável pela liberação de veículos do órgão, informou que 60% das apreensões de automóveis são feitas pela Secretaria de Ordem Pública (Seop) e levados para depósitos da prefeitura, que ainda não são informatizados. “Os nossos são informatizados. Somente agora os da prefeitura começarão a atender online também”, comentou.

Everson Marinho, 47 anos, empresário:

“Estou há mais de dois anos lutando para ser ressarcido. Até hoje, o Detran não me devolveu um centavo sequer. Já fui mais de 50 vezes à sede do órgão (no Centro) e só me enrolam. Me sinto humilhado, enganado e descrente nos órgãos públicos”.

Antônio Carlos Soares, 38 anos, taxista:

“Não posso dirigir desde sexta-feira, porque não consigo renovar minha habilitação. A única explicação que me deram (no Detran), depois de quatro horas de espera, é que meus dados tinham sumido do sistema. Tudo isso por força alheia à minha vontade. A direção do Detran deveria ter bom senso e me fornecer ao menos um documento qualquer, provisório, enquanto não há solução para essa situação”.

Na fila por até 3 horas

Reclamações referentes a filas e à demora no atendimento nos postos de vistoria também são recorrentes. O vendedor Gabriel Pedro Maia, 29, que o diga. Na quarta-feira, chegou às 13h30 no posto de Vila Isabel para vistoria anual de seu Corsa, marcada antes do Carnaval, mas saiu somente às 17h10. Na sexta-feira, pelo menos 40 carros aguardavam no posto Santa Luzia, no Centro, irritando motoristas.

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