terça-feira, 13 de dezembro de 2011

'Matemático' oferecia R$ 20 mil por policial morto

Rio - Alvo principal da polícia do Rio de Janeiro após a prisão de Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem da Rocinha, o traficante Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, ofereceu aos subordinados uma recompensa de R$ 20 mil para quem matar policiais que fazem incursões em seus redutos na Zona Oeste. A informação foi passada por um comparsa do bandido durante um depoimento, ao qual o iG teve acesso, dado à delegacia de Bangu, na Zona Oeste, no ano passado, e foi anexada a um processo contra Matemático que tramita na 2ª Vara Criminal de Bangu do Tribunal de Justiça, desde 2010.

                              Foto: Divulgação

                                                Foto: Divulgação

A suposta recompensa é uma das muitas características que revela o lado perverso do bandido de 35 anos, e que domina todo o complexo de favelas no bairro de Senador Camará, que reúne as comunidades da Coreia, Rebu, Vila Aliança, Taquaral e Sapo.

Policiais ouvidos pelo iG não descartam que a suposta ordem para matar PMs seja verdadeira. Neste ano, dois PMs que estavam à paisana morreram na estrada do Taquaral mas a polícia não encontrou evidências da participação da quadrilha de Matemático no episódio. O comandante do 14º BPM (Bangu), tenente-coronel Alexandre Fontenelle, no entanto, disse ao iG que Matemático deve se preocupar em não ser preso e não em atirar em policiais.

Desde o início do ano, Matemático vem tentando tomar o controle da Vila Kennedy, também na zona oeste, controlada por um grupo riva. A guerra já provocou a morte de dezenas de pessoas, inclusive inocentes.

O processo da Justiça revela que um dos membros da quadrilha de Matemático, conhecido pelo apelido de Pintado, circula pela favela com um machado e é responsável por cortar os corpos de vítimas do grupo antes de queimá-los. Ele tem ainda um outro "funcionário", chamado de Professor, que tem uma única incumbência: localizar pessoas que estão sendo procuradas pela quadrilha para serem mortas.

Em 2009, dois irmãos tiveram um destino trágico. Um deles estaria tendo um caso com uma mulher de um traficante. Por ordem de Matemático, o rapaz foi agarrado e levado para um campo de futebol onde seria morto. O irmão dele tentou salvá-lo. Ambos foram assassinados e tiveram os corpos queimados.

Matemático herdou o controle dos pontos de venda de drogas do Complexo de Senador Camará após a morte do antigo líder, Róbson André da Silva, o Robinho Pinga, em 2007. Esteve preso em 2009. Em abril daquele ano, recebeu progressão para o regime semiaberto. Saiu da cadeia para trabalhar em uma funerária e não mais voltou. O Disque-Denúncia oferece uma recompensa de R$ 3 mil para quem prestar informações que levem a sua captura.

Desespero

A delegada Márcia Julião, da 34ª DP (Bangu), guarda a sete chaves informações sobre o bandido. Ela disse que, há três semanas, a polícia esteve muito perto de pegá-lo e que o traficante se desesperou. "Ele gritou desesperado em um rádio de comunicação para aumentar o reforço na favela", disse.

O comandante do 14º BPM (Bangu) disse que tem fechado o cerco ao traficante. Segundo ele, ao menos três operações são feitas por semana para tentar capturá-lo.

Os bailes funks, que garantiam uma boa fonte de renda para os bandidos, não são realizados há um mês devido a presença de PMs nas favelas. Em quase dois meses do novo comando do batalhão, nove fuzis do bando de Matemático foram apreendidos.

Entretanto, de acordo com Fontenele, o bandido tem adotado estratégias para evitar ser preso. Uma delas foi ter obrigado mototaxistas a atravessar seus veículos nas ruas para dificultar a passagem dos carros da polícia. A outra foi ter mandado os bandidos se esconderem em escolas. Há cerca de um mês, um suspeito armado com um fuzil foi preso em um colégio público na Vila Aliança durante uma fuga.

Márcia Julião afirmou que a quadrilha de Matemático tem como característica ir para o embate com a polícia. Segundo ela, toda vez que há operações policiais, os traficantes são obrigados por Matemático a saírem das casas onde moram.

O lado cruel do bandido contrasta também com o de benfeitor. Criado nas comunidades de Senador Camará, o traficante costuma promover festas com distribuição de presentes no Natal e dia das crianças. Cargas de eletrodomésticos também são roubadas nas imediações e os produtos distribuídos entre os moradores.

Segundo Julião, o bandido também é mulherengo e teria várias amantes na favela. Usaria casas delas para se esconder. Um de seus filhos, um menor de 17 anos, foi preso recentemente em um assalto no bairro de Bangu. Seus dois principais gerentes, os criminosos conhecidos como Peixe e Barriga, encontram-se foragidos.

Matemático circula com vários seguranças. Alguns deles, inclusive, moravam em uma casa construída no quintal da residência do traficante recentemente descoberta. A casa de padrão bastante superior ao da vizinhança tinha uma piscina em construção, aparelhos para musculação, diversos televisores de plasma, computadores e eletrodomésticos.

Guerra na Vila Kennedy

O coronel Fontenele afirma que a guerra promovida por Matemático para tomar o controle da Vila Kennedy cessou em razão do reforço no policiamento, mas ainda haveria alguns confrontos esporádicos. Segundo ele, a favela é considerada estratégica para o bandido porque os seus redutos de Camará têm poucas vias de entrada e de saída, enquanto que a Vila Kennedy margeia a avenida Brasil e é mais exposta.

O oficial revelou ao iG ter certeza de que, com a construção do Centro de Comando e Controle da PM no Complexo da Maré, previsto para começar a funcionar em 2012, traficantes de lá migrem para Senador Camará já que a Maré terá a presença permanente do Bope (Batalhão de Operações Especiais).

O comandante teme, inclusive, que a migração já esteja acontecendo. Há duas semanas, ele afirmou ter achado em Senador Camará uma casa que pertence ao traficante Marcelo Santos das Dores, o Menor P que, atualmente, está à frente das comunidades Vila dos Pinheiros, Vila do João, Timbau e Baixa do Sapateiro. Menor P conseguiu fugir.

Fontenele, inclusive, suspeita que Menor P possa suceder Matemático na administração do tráfico das favelas de Senador Camará. Segundo o oficial, Matemático tem bons contatos com traficantes de outros Estados e de países vizinhos e poderia ficar atuando apenas como "matuto" (fornecedor de drogas). Atualmente, além do Complexo de Camará, o bandido também administraria as bocas de fumo da favela de Acari, na zona norte.

"Se ele continuar se escondendo na favela, ele sabe que certamente será preso", disse o coronel Fontenele.

As informações são dos repórteres Mario Hugo Monken e Bruna Fantti, do IG

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