terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dose elevada de radiação fere menina gravemente

Suposto erro em sessão de radioterapia fez criança com leucemia sofrer lesões, queimaduras e danos cerebrais sérios

POR Clarissa Mello

Rio -  Aos 7 anos, Maria Eduarda, portadora de um tipo raro de leucemia, estava prestes a vencer a doença quando um suposto erro médico a condenou a viver praticamente em estado vegetativo. Após passar por sessões de radioterapia no Centro Radioterápico São Peregrino, na Tijuca, ela perdeu as duas orelhas, teve queimaduras de 3º grau na cabeça e no pescoço e está com parte do crânio exposto. A criança também sofreu graves lesões neurológicas, que comprometeram fala, movimento e memória.

A família acusa a clínica: há suspeita de que as doses de radioterapia aplicadas na criança para tratar o câncer tenham sido muito mais altas do que o recomendado. O pai dela, o advogado Ronaldo Rosa, 31 anos, contou que os problemas começaram a aparecer em outubro, após a oitava e última sessão de radioterapia à qual Maria Eduarda foi submetida.

Maria Eduarda após o aparecimento das primeiras lesões | Foto: Álbum de família

Maria Eduarda após o aparecimento das primeiras lesões. Atualmente, a garota não levanta mais da cama e outras queimaduras estão surgindo | Foto: Álbum de família

“Primeiro vieram as queimaduras. Um mês depois, ela perdeu as orelhas. Depois, vieram os danos neurológicos. Ela era uma menina normal, falante, inteligente. Hoje, não consegue levantar da cama”, relatou Ronaldo.

Ele entrou na Justiça contra a clínica e fez registro de ocorrência na 19ª DP (Tijuca).

“Na clínica perderam todos os registros dela. Não sabemos nem a dose de radioterapia que foi aplicada. Ao que tudo indica, as doses foram dez vezes mais altas do que o correto. Os danos estão aparecendo aos poucos”, contou Ronaldo.

“Ninguém sabe o que fazer. Era para minha filha estar curada, como outras crianças que começaram tratamento na mesma época que ela”, lamentou.

Perícia pedida pela 4ª Vara Cível do Foro Regional de Bangu, realizada por Roberto Salomon de Souza, perito do Instituto Nacional do Câncer (Inca), apontou que “esse tipo de reação não é esperada para esse tratamento” e que “resta a possibilidade de erro humano”. Os responsáveis pelo Centro Radioterápico São Peregrino não quiseram comentar o assunto.

Foto: Reprodução

Análise de especialista do Inca informa que dose foi excessiva, mas que equipamento não estava com defeito. Ele destaca, ainda, que registros do atendimento não foram achados na clínica | Foto: Reprodução

Futuro da garota é imprevisível

De acordo com o laudo pericial, não é possível dizer se Maria Eduarda irá se recuperar e que outros efeitos colaterais ela corre risco de sofrer. “... o dano causado pela exposição, sua reversibilidade ou não, sua letalidade ou não, é diretamente proporcional à dose de radição à qual a região da paciente foi exposta. Como não houve acesso aos registros da dose ministrada, não é possível afirmar quais as reações tardias da exposição em doses acima do prescrito”, concluiu o perito.

Roberto Salomon destacou ainda que “é possível afirmar que (as queimaduras e lesões) foram provocadas por exposição a altas doses de radiação”. Porém, segundo ele, não é possível saber o que levou à sobredose “devido a ausência de registros computacionais e (...) dos registros efetuados na ficha de tratamento”.

O Dia Online

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