segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

BIOGRAFIA DA EX-DEPUTADA HELONEIDA STUDART



Jornalista, escritora, política, feminista e mãe. Todas estas palavras se encaixam para compor o perfil de Heloneida Studart Soares Orban, guerreira incansável na luta pelos direitos da mulher. Helô, como era chamada carinhosamente, exerceu sete mandatos na Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, onde foi vice-presidente. A paixão pela política, no entanto, foi posterior ao gosto pela escrita, atividade que nunca abandonou. Aos nove anos, estreou como escritora com a história infantil “A Menina que fugiu do frio”.

Nascida em Fortaleza, estado do Ceará, em 9 de abril de 1932, Heloneida é descendente do historiador Barão de Studart, pelo lado materno, e do líder abolicionista Antonio Bezerra de Menezes, pelo lado paterno. Aos 16 anos, veio morar no Rio de Janeiro e estreou como colunista no jornal O Nordeste, onde já causava polêmica.

Em 1953, Heloneida publicou o romance “A primeira pedra”. Quatro anos depois, viria o romance “Dize-me o teu nome”, que recebeu o prêmio da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio Orlando Dantas. Formada em Ciências Sociais pela Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, a ex-parlamentar foi trabalhar no jornal Correio da Manhã em 1960. Por várias décadas, atuou no jornalismo como redatora da revista Manchete, comentarista de programas como Sem Censura, da TVE, e articulista em diversos jornais.

Em 1966, Heloneida foi eleita presidente do Sindicato das Entidades Culturais (Senambra). Por fazer oposição à ditadura militar, foi destituída do cargo e presa, em março de 1969. Do cárcere, surgiu a inspiração para os roteiros “Quero meu filho” e “Não roubarás”, que seriam gravados e exibidos anos depois, com sucesso, pela TV Globo. É de sua autoria, também, a peça “Homem não entra”, que ficou em cartaz durante cinco anos e representou um marco do teatro brasileiro nos anos 70, por defender bandeiras relativas ao avanço e à promoção das mulheres. Com o fim do regime militar, três novos romances, chamados de "Trilogia da tortura", foram publicados pela autora: “O pardal é um pássaro azul” (traduzido em quatro idiomas); “O estandarte da agonia” (inspirado na vida de sua amiga Zuzu Angel), e “O torturador em romaria”.

Em 1978, às vésperas da anistia, Heloneida foi eleita deputada estadual com 60 mil votos pelo então MDB (Movimento Democrático Brasileiro). Em 1982, reelegeu-se pelo já denominado PMDB e foi vice-líder da bancada de 1979 a 1988, ano em que deixou o partido e participou da fundação do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). No ano seguinte, saiu do PSDB e entrou no Partido dos Trabalhadores (PT). Durante a Assembléia Constituinte, Heloneida participou do chamado “lobby do batom”, para inclusão de direitos trabalhistas específicos para mulheres, como a licença-maternidade de 120 dias.

Na Alerj, Heloneida exerceu vários cargos importantes: foi vice-presidente da Comissão Parlamentar de Controle do Meio-Ambiente, integrou as comissões especiais dos direitos da mulher e da que tratou dos direitos de reprodução; participou da apuração das condições de atendimento da população nessa área; atuou, ainda, como vice-líder da bancada do PT (de 1991 a 1995); de 1995 a 1999, presidiu uma comissão especial destinada a apurar as formas de arrecadação e distribuição dos direitos autorais no Rio de Janeiro e a Comissão de Direitos Humanos da Casa. De 2002 a 2006, foi primeira vice-presidente da Alerj, participando de projetos importantes como a fundação da TV Alerj e a construção e inauguração do Centro Administrativo da Casa, na Rua da Alfândega. Em 2007, a ex-deputada foi nomeada para os cargos de diretora do Centro Cultural da Alerj e do Fórum de Desenvolvimento Estratégico do Estado do Rio de Janeiro Jornalista Roberto Marinho.

Como legisladora, Heloneida se destacou por criar leis que vieram a beneficiar mulheres e trabalhadores. Dentre elas, a Lei 2.648/1996, que garantiu o exame de DNA para mães de baixa renda; a Lei 4.103/2003, que obriga as unidades públicas e conveniadas de saúde a realizar cirurgia reconstrutiva de mama em mulheres que sofreram mutilações decorrentes de câncer; a Lei 4.119/2003, que garantiu a distribuição gratuita de medicamentos para tratamento e monitoramento da diabetes, e a Lei 3814/2002, que obriga o serviço público a conceder um dia de licença por ano a funcionários com 40 anos ou mais para exame preventivo de câncer.

Em meio ao trabalho legislativo, a deputada-escritora implantou ainda o projeto cultural “Libertas quae sera tamen”, que consistia da apresentação de três peças teatrais sobre as lutas de libertação do povo brasileiro: “Tiradentes, o Zé de Vila Rica”; “Bárbara do Crato” e “Frei Caneca”. Dirigido a alunos de escolas públicas, as peças ficaram quatro anos em cartaz no Palácio Tiradentes, sede da Alerj, e foram assistidas por mais de 40 mil pessoas.

A convite da Editora Vozes, a jornalista escreveu sobre a condição feminina, publicando os ensaios "Mulher, objeto de cama e mesa", obra que vendeu 280 mil exemplares e se transformou em uma espécie de bíblia do feminismo brasileiro, e "Mulher, a quem pertence seu corpo?" Com o livro “Mulheres brasileiras”, da Editora Record, Heloneida Studart foi indicada uma das cem brasileiras mais importantes do século XX. Em 2005, a Fundação de Mulheres Suíças escolheu mil mulheres para concorrerem ao prêmio Nobel da Paz, e a jornalista estava entre as 52 brasileiras indicadas.

Heloneida publicou também outras obras relevantes: "A culpa"; "China, o Nordeste que deu certo"; "A deusa do rádio e outros deuses", e "Deus não paga em dólar". Esta última foi considerada um marco da literatura brasileira.

Casada com o administrador de empresas Franz Orban, mâe de seis filhos, todos homens, Heloneida morreu na manhã desta segunda-feira (03/12), na Casa de Saúde São José, na zona Sul do Rio, vítima de parada cardíaca, uma semana após ser submetida a uma cirurgia no coração. Um dia antes, havia sido eleita presidente da zonal de Larangeiras do Partido dos Trabalhadores.

Um comentário:

josa disse...

Heloisa tive a oportunidade de ouvir um de seus textos,ele fala da mutilação das mulheres nas cliicas de estéticas vítimas da industria da moda,não sei qual o titulo dele,e será importante para meu trabalho,pois acompanho diversos grupos de mulheres aqui o Vale do Rio Doce Minas Gerais.
"QUANDO UMA MULHER AVANÇA,NENHUM HOMEM RETROCEDE"
JOSILMA ALVES