quarta-feira, 13 de maio de 2009

Mal-remunerada, PM do Rio ainda faz escola

Unidades como o Batalhão de Operações Especiais e a Companhia de Cães são referência de qualidade, contrastando com a dura realidade do segundo pior salário do País

Alfredo Junqueira e Élcio Braga

Rio - A Polícia Militar tem muito o que ensinar. Agentes de segurança do mundo inteiro vêm ao Rio participar de treinamento no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), na Companhia Independente de Policiamento de Cães e no Grupamento Aéreo-Marítimo (GAM). Mas quando a questão é salarial, a PM tem muito a aprender. Ao completar hoje 200 anos, a instituição paga o segundo pior salário entre as polícias militares no País. Um soldado ganha apenas R$ 1.037, brutos, mensais.

A Companhia de Cães da PM, em Olaria, costuma receber policiais de outros estados para treinamentos como resgate de reféns e choque. Foto: Carlo Wrede / Agência O DIA

“É um salário de fome, um soldo miserável”, ataca o deputado federal Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP), autor da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 300/2008, que propõe a equiparação da remuneração da Polícia Militar e dos Bombeiros de todo o Brasil com a do Distrito Federal — a maior do País. Com salários e benefícios pagos pelo governo federal, os soldados que atuam na região de Brasília têm piso médio bruto de R$ 3.370.

“Se a União complementa a remuneração no DF, por que não fazer o mesmo nos outros estados? Gasto em segurança pública não é despesa. É investimento”, afirma o deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ).

Mesmo um soldado da tropa de elite da PM pensa em deixar a carreira. Sem se identificar, ele estuda para ser advogado. Com sete anos na PM, dois cursos de adestramento, recebe R$ 2.192,55 — a metade, gratificação por ser do Bope. “Continuo aqui enquanto não conseguir outra coisa”, avisa.

As qualidades da PM são inquestionáveis. O Bope oferece cursos de Ações Táticas e de Operações Especiais a agentes de várias polícias, como dos Estados Unidos e de Israel. A Cia de Cães, em Olaria, é outro exemplo de excelência. Treina cães para policiamento de choque e resgate de reféns.

Para festejar o bicentenário, a instituição realiza solenidade para entrega de espadins a 78 cadetes. Autoridades receberão medalhas. Mas, na hora de apagar as velinhas, a PM merecia levar mais do que bolo.

Expectativa por pacote de bondades

Apesar do desonroso título de vice-pior salário do País, há expectativa entre os policiais militares de que a comemoração dos 200 anos da corporação conte com o anúncio de um reajuste de 12% da remuneração — entre outras boas novidades. Caso seja anunciado esse aumento, o piso salarial do Rio passaria a R$ 1.161, o que faria o estado sair do 26º para o 22º lugar no ranking nacional das remunerações de PMs.
“Seria boa notícia, mas ainda nos falta articulação política. Os PMs de Minas Gerais, São Paulo e DF já fizeram paralisações para forçar reajustes maiores. Aqui há muita divisão”, disse o presidente da Associação dos Militares Auxiliares e Especialistas, Melquisedec Nascimento.
Atualmente, apenas os PMs do Rio Grande do Sul têm soldo inferior ao que é pago no Rio: R$ 823,72 brutos. Até ano passado, esse título era dos PMs de Alagoas. Depois de greves, o piso bruto passou para R$ 1.248.

Motivação para entrar na corporação

Quem quer ser PM? A pergunta feita na edição de ontem de O DIA motivou muitos jovens a declarar por e-mail amor à carreira. “É um sonho de infância e já está no sangue da família”, diz Bruno Tostes, inscrito no próximo concurso, que tem primos nas polícias.

Gil Vicente relata que o sonho de infância era ser PM, como o pai. Passou nas provas, mas desistiu por pressão da família: “Quem sabe não realizo meu sonho vendo meu filho entrar na PM”. Andrey Laranja Goes passou no concurso e aguarda resultado do psicotécnico. “Quando entro no Cfap para fazer meus testes, meu sangue ferve e me arrepio todo. Eu preciso ser policial”, vibra.

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